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terça-feira, 18 de maio de 2010

Sacilotto e Barsotti na BMF&BOVESPA

Estive no saguão da BMF, agora transformado eventualmente em um espaço de exposições, que já nos apresentaram grandes mostras que entraram para os anais da cultura paulistana.

Pena que ultimamente o horário de visitação está limitado ao expediente do pregão da Bolsa, não abrindo mais aos fins de semana, possibilitando assim que mais pessoas possam desfrutar das obras ali expostas.

Com esta exposição pude finalmente começar a perceber as diferenças entre a Arte Concreta e a Neoconcreta, que já tinha pesquisado quando dos meus comentários sobre as exposições de Lothar Charoux e de Amilcar de Castro e não tinha conseguido compreender a ruptura entre estas duas estéticas de expressão.

Nesta visita comecei a perceber que a arte concreta, além de ser monocromática, se prende mais à rigidez cartesiana onde as obras são todas feitas com traços precisos, que além de poderem ser traduzidos em fórmulas matemáticas, nos proporcionam ilusões cinéticas de curvas e movimentos, quando só há retas com início e fim. Como a toda regra existem exceções, Sacilotto apresenta algumas obras em duas cores.

Já no neoconcretismo percebi uma maior liberdade de traçados, onde estão dispostos com menor formalismo sem estarem presos a regras preconcebidas, e se utilizando das cores em profusão.

As obras de Luiz Sacilotto são Concretas e a de Hércules Barsotti Neoconcretas.

Ainda nas pesquisas para este comentário, encontrei esta entrevista de Luiz Sacilotto na revista E do portal SESCSP, onde é dito que a ruptura entre os artistas e a criação de uma nova estética, se deu mais por uma guerra de vaidades do que o nascimento de uma nova escola com valores diferentes dos então aplicados ao Concretismo.




Para acompanhar este comentário a música Focus II, de um conjunto holandês ícone do rock progressivo, Focus, que me parece fazer uma composição concreta.




Focus II -Focus

Abaixo das imagens, texto de apresentação da exposição, publicado no seu catálogo.














SACILOTTO E BARSOTTI na BMF&BOVESPA

Há encontros que mudam a vida de qualquer pessoa. São capazes de reinventar conceitos e reescrever a história da arte brasileira. Um desses encontros, que parecia improvável, tornou-se possível no Espaço Cultural BM&FBOVESPA, que abre suas portas para receber dois mestres da arte concreta e neoconcreta do País: Luiz Sacilotto e Hércules Barsotti. Eles são protagonistas da exposição “Sacilotto e Barsotti – Diálogo entre o Concretismo e o Neoconcretismo”.

O que os menos impiedosos poderiam conceituar de rivalidade, os amantes da cultura
preferem chamar de uma verdadeira e inédita oportunidade. Amigos pessoais, Sacilotto
e Barsotti fizeram parte de grupos antagônicos. Por isso, presenciar esse encontro da arte concreta com a arte neoconcreta é, sem dúvida, um privilégio para poucos. O concretista Luiz Sacilotto defendia a renovação dos valores essenciais das artes visuais por meio das pesquisas geométricas, pela proximidade entre trabalho artístico e produção industrial e pelo corte com a tradição abstracionista hedonista. Repudiava qualquer referência figurativa ao defender o uso de formas geométricas puras.

Enquanto isso, a cor, recusada no início por parte do concretismo, invade as pesquisas neoconcretistas de Hércules Barsotti. Mas as diferenças não param por aí: os neoconcretistas, com raízes fincadas no Rio de Janeiro, consideravam o concretismo dos artistas de São Paulo racional à exaustão, por isso defendiam um trabalho mais solto e intuitivo.

Falar de concretismo no Brasil é prestar uma homenagem à obra de Sacilotto. Em Santo André, ele cresceu ouvindo o barulho compassado e intermitente das fábricas,verdadeiras engrenagens do Brasil nas primeiras décadas do século XX. De alguma forma, a sistematização do movimento, a repetição e os jogos ópticos (legados do olhar de Sacilotto menino) marcaram a produção do artista, seja por meio de suas célebres “concreções” ou pelas telas, desenhos e esculturas que expressam a fase mais madura e conhecida de sua criação geométrica. “Sacilotto sempre teve uma pintura muito boa. Acho que era o melhor do grupo”, afirmou, certa vez, Barsotti sobre o amigo.

Já Barsotti trabalhava a dinâmica das possibilidades da forma, com destaque para a espacialidade que salta de seus quadros, como podemos observar em Branco/Preto, da coleção do MAC – Museu de Arte Contemporânea da USP. As cores de seus trabalhos produzidos a partir da primeira metade dos anos 1960 são intensas. Os azuis são veementes, os amarelos vibrantes, os vermelhos apaixonantes – todos contrastando em formatos de triângulos, losangos, quadrados e círculos.

Ao procurar um equilíbrio entre razão e emoção, Barsotti reinventa o conceito tradicional
da arte: suas formas flutuam, giram, correm para fora da moldura e hipnotizam. Seus significados são imprevistos, infinitos, lúdicos. Barsotti afirma que seus pensamentos são arquitetônicos:
O projeto já é a coisa pronta. Quando o assunto são as cores, ele não esconde:
Quando encosto uma cor na outra é que percebo a relação entre elas. Nesse momento, é meu
olho e não minha cabeça que decide.

A exposição “Sacilotto e Barsotti – Diálogo entre o Concretismo e o Neoconcretismo” é
a reunião de um legado de obras-primas. Aberta ao público até 7 de maio de 2010, a
mostra apresenta um total de 24 obras, sendo 12 pinturas de Barsotti e outros 10 quadros e duas esculturas de Sacilotto, que cobrem seis décadas de produção artística brasileira.
Ao produzir esculturas de corte-e-dobra nos anos 1950, representadas nesta mostra por
Concreção 5816 e Concreção 5949, Sacilotto tornou-se precursor da escultura brasileira de vanguarda.

Ao abrir suas portas para perpetuar esse encontro de grandes artistas, a BM&FBOVESPA convida o público a refletir sobre o que a arte é capaz de dizer e fazer sentir em meio aos quadrados, losangos e círculos geométricos, dosados de intenso volume, cor e espacialidade.
É também uma homenagem aos artistas brasileiros, uma vez que o concretismo produziu alguns dos nomes mais importantes da arte brasileira na segunda metade do século XX, entre eles Sacilotto (que faleceu em 2003) e Barsotti que, com seus 96 anos de idade, sendo 70 deles dedicado às artes, é um dos mais importantes artistas vivos do Brasil.
É com imenso prazer que a BM&FBOVESPA promove este encontro surpreendente entre
Sacilotto e Barsotti, uma verdadeira conquista para a arte brasileira.

Edemir Pinto - Diretor Presidente da BMF&BOVESPA

Um comentário:

  1. Concreta ou neo concreta a bela composição de formas e cores das obras de ambos impressionam e inspiram. Diante de tal beleza a discussão perde o foco. Concordo com o diretor quando ele diz q esse encontro é uma conquista para a arte brasileira.

    ótima postagem.

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