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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

NELSON LEIRNER 2011-1961=50 ANOS

Retrospectiva da obra de Nelson Leirner, com trabalhos de diversas fases do artista, em diferentes estilos, linguagens e suportes.

Há nesta mostra obras geniais e deslumbrantes, mas há também obras menores, rasteiras, que parecem terem sido feitas às pressas.

O grande risco de uma exposição desta magnitude é apresentar fases menos inspiradas, ou menos valiosas de cada autor, causando uma certa decepção aos visitantes.

Minha relação com as instalações ainda é difícil, não consigo entendê-las e acho que não são nada mais do que cenários, como já disse Mauro Andriole em um comentário no meu post Aguilar no CCBB; ainda valendo a minha opinião expressada neste.



Birdland - Quincy Jones


Abaixo da imagens, o "press-release", fornecidos pela assessoria de imprensa da FIESP.






SESI-SP APRESENTA EXPOSIÇÃO
NELSON LEIRNER 2011-1961=50 ANOS

Mostra reúne mais de 40 obras que atravessaram cinco décadas. Público poderá conhecer os trabalhos gratuitamente, a partir de 6 de setembro.


São Paulo, 30/8/2011 - Entre 6 de setembro e 6 de novembro de 2011, Nelson Leirner volta a São Paulo para repassar, na Galeria de Arte do SESI-SP, sua brilhante e controvertida trajetória. A mostra Nelson Leirner 2011-1961=50 anos apresentará, gratuitamente, a retrospectiva dos anos em que o artista reinou absoluto no meio da arte. Uma série que reúne as obras que o colocaram em posição de destaque na história da nossa arte. A mostra inclui, ainda, monumental e inédita instalação “Um, nenhum e cem mil”, realizada ao longo dos últimos 15 anos.
Sua obra é considerada uma das mais provocativas na história da arte brasileira, com trabalhos iconoclastas, fundamentados no persistente desmantelamento da noção de arte, na crítica de seus processos e valores e, acima de tudo, na compreensão do seu caráter grandioso.
A exposição tem curadoria de Agnaldo Farias e abarca três momentos decisivos da trajetória de Leirner: os primeiros anos, quando o artista mesmo fazendo uso de suportes convencionais – pintura, pintura/objeto e desenho – alcança resultados; a segunda fase, de meados de 1965 até 1994, quando alcança a maturidade sob a forma de obra polimórfica (troca a noção de criação pela de apropriação, realiza happenings, performances, intervenções em espaço público até trabalhos pautados na paródia do circuito artístico, passando por ensino da arte e a compreensão do espaço pedagógico como extensão de seu trabalho artístico; e a terceira fase, inaugurada com a mostra retrospectiva de 1994, sua primeira exposição do gênero, quando utiliza objetos industriais, materializadores do repertório infinito proporcionado pelas empresas comprometidas com o imaginário social, de crianças aos adultos, cuja devoção encontra um poderoso apoio em imagens e estatuetas.
Essa fase, em que o artista enxerga seu trabalho como um verdadeiro hobby, coroa-se com a realização da grande instalação “Um, nenhum e cem mil”, composta por objetos e trabalhos portáteis de toda sorte, a exemplo de colagens e intervenções gráficas realizadas sobre cartões postais, livros, revistas e tudo o mais que cai nas mãos do artista e o faz se sentir estimulado a acrescentar algo.


Saiba mais sobre o artista



Nelson Leirner é filho da escultora Felícia Leirner e do empresário Isaí Leirner. Desde a infância, a arte moderna está muito presente em sua vida. Seus pais conviveram com boa parte da vanguarda brasileira e ajudaram a fundar o Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP e a Galeria de Arte da Folha, além de instituírem o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea.
Tornou-se artista apenas na década de 50, estimulado por trabalhos de Paul Klee. Em 1956, passou a ter aulas de pintura com Joan Ponç. Dois anos depois, frequentou o Atelier-Abstração, de Flexor, mas não se entusiasmou com os cursos. Suas telas se aproximam da abstração informal de pintores como Alberto Burri e Antoni Tàpies. Entre 1961 e 1964, continuou com a pesquisa de materiais, mas seguiu em outra direção. Interessado nas poéticas dadaístas, produziu seus quadros com objetos recolhidos na rua, criando a série Apropriações.
Em 1964, o artista abandonou a pintura e passou a trabalhar com elementos prontos, fabricados industrialmente. A partir de então passou a recolher objetos de uso e deslocou seu sentido, como em Que Horas São D. Candida (1964). Seus trabalhos estão entre a escultura e o objeto. Dois anos mais tarde, a participação do espectador é incorporada em obras como Você Faz Parte I e II (1966). Ainda em 1966, fundou o Grupo Rex, com Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Frederico Nasser, José Resende e Carlos Fajardo. O coletivo promove happenings e publica o jornal Rex Time. O grupo se volta a problemas como as relações da arte com o mercado, as instituições e o público.

Em 1967, montou a exposição Da Produção em Massa de uma Pintura, mostrando a série Homenagem a Fontana, uma das primeiras séries de múltiplos do país. As "pinturas" são produzidas industrialmente. Feitas de zíperes e tecidos, objetos que tradicionalmente não têm propriedades artísticas. No mesmo ano, enviou seu Porco Empalhado (1966) para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília. O júri aceita o trabalho. Leirner questionou o resultado e solicitou manifestação explicita dos critérios de admissão da mostra, criando polêmica com críticos como Mário Pedrosa e Frederico Morais. A partir da década de 1970, o teor questionador do trabalho migrou da ação direta para um sentido alegórico, que muitas vezes envolve o erotismo. Nessa época, Leirner se dedicou a outras linguagens, como o design, os múltiplos e o cinema experimental.

A presença de elementos da cultura popular brasileira, marcante desde os anos 1960, cresceu a partir da década de 1980. Em 1985, realizou a instalação O Grande Combate, em que utiliza imagens de santos, divindades afro-brasileiras, bonecos infantis e réplicas de animais. Desde o ano 2000, seu trabalho se apropria de imagens artísticas banalizadas pela sociedade de consumo. De maneira bem-humorada, lida com as reproduções da Gioconda (Mona Lisa), 1503/1506 de Leonardo da Vinci, e a Fonte, 1917 de Marcel Duchamp, como tema artístico. Com a mesma ironia, o artista replica em couro de boi imagens da tradição concreta brasileira, na série Construtivismo Rural.


SERVIÇO:
Exposição Nelson Leirner 2011-1961=50 anos
Vernissage: dia 5 de setembro de 2011, às 19h – fechada para convidados
Local: Galeria de Arte do SESI-SP - Av. Paulista, 1313 – metrô Trianon-Masp
Datas e horários: 6 de setembro a 6 de novembro de 2011 - segunda-feira, das 11h às 20h; terça a sábado, das 10 às 20 horas; domingo, das 10 às 19 horas.
Informações: (11) 3146-7405 / 3146-7406 / www.sesisp.org.br/centrocultural
Entrada: franca
Recomendação etária: Livre
Agendamento de grupos: (11) 3146-7396 – de segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 17h.

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SESI-SP e SENAI-SP / FIESP www.sesisp.org.br e www.sp.senai.br
Jornalistas responsáveis: Rosângela Gallardo, Rodrigo Marinheiro, Maysa Penna e Danusa Etcheverria
Apoio de atendimento: Karina Silva
E-mail: imprensa@sesisenaisp.org.br
Tels.: (11) 3146-7703 / 7702 / 7724

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SuperHeavy - Miracle Worker

Acabei de ver este vídeo, um clipe promocional do álbum do grupo SuperHeavy, composto por pesos super-pesados da música mundial, Mick Jagger, Joss Stone e Damian Marley (um dos inúmeros filhos de Bob).

Nas resenhas de lançamento descobrimos que a inusitada reunião destes talentos nasceu de um desejo de Mick Jagger se reinventar, experimentar outras vertentes sonoras que não a do Rock'n Roll, afinal ele sempre foi extremamente versátil e com o perdão do trocadilho, pedra que muito rola não cria musgo.

Conheço pouco de Joss Stone, mas com essa voz e principalmente a aparência, terá uma carreira longeva, já que também escolhe muito bem seu repertório.

Agora Sir Mick dispensa maiores comentários é um "enterteiner " cuja voz e molejo são os mesmos de há 40 anos, sem estarem presos aos dogmas do passado.

Boa diversão.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris

Faz muito tempo que São Paulo não é brindada com um exposição de fotos dessa magnitude.

Espetacular, é a única definição que posso dar, pois temos oportunidade de ver reunidas, se não numa mostra original, obras de artistas ícones no mister da fotografia, alguns já incensados no panteão dos mestres.

Com fotos posadas ou instantâneos de situações reais e momentâneas, mostram o ser humano no seu melhor e no seu pior momento, nos extremos da angustia, desesperança, do dissabor, mas também em seu extremo de beleza e bem estar.

As fotos contém toda carga emocional do momento, magistralmente captadas pelos artistas. Momentos que transcendem uma época, se eternizando.

Vemos algumas fotos que expõem o extremo final, a morte, ou de seus diversos instrumentos.

Reparei que só há uma única foto do primeiro extremo, o nascimento, pensei que os curadores só imaginam o fim como o único extremo, ou a explosão de sexualidade e a perfeita forma física.
Acho que também deveriam lembrar que a perfeita forma intelectual é o apogeu, ou o "extremo" de qualquer ser pensante.

Abaixo das imagens, o "press-release" fornecidos pela assessoria de imprensa do IMS.




Baião Malandro - Egberto Gismonte


Sprays químicos protegem este bombeiro da alta temperatura das chamas. Campo petrolífero Greater Burhan, Kuwait, 1991.

Sebastião Salgado © Sebastião Salgado/ Amazonas imagens



Sue, Debbie, Berlim, 1993

25/34 Photographes © Ralf Marsault/ Heino Müller



Da série Surfistas de trem, Rio de Janeiro, 1990

Rogério Reis © Rogério Reis



Da série O Invisível, 1976

Claudia Andujar © Claudia Andujar



Da série The Last Resort, New Brighton, 1983-1985

Martin Parr © Martin Parr/ Magnum/ Latinstock



Estética do limite é abordada em exposição de fotografias no Instituto Moreira Salles de São Paulo

Mostra reúne imagens de importantes fotógrafos brasileiros e internacionais da coleção da Maison Européene de La Photographie, de Paris


O Instituto Moreira Salles, em parceria com a MEP - Paris, abre no dia 20 de setembro, às 19h30, a exposição Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris. Com curadoria de Milton Guran, coordenador do FotoRio, e de Jean-Luc Monterosso, diretor da MEP, e com a colaboração de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, a mostra reúne 100 imagens que representam situações extremas da história, das sociedades, dos indivíduos e dos costumes ao longo dos últimos 65 anos, todas registradas pelas lentes de grandes nomes da fotografia mundial.

Na exposição, serão exibidas fotografias que, em seu tempo e a seu modo, tornaram-se ícones de situações extremas ao registrar o belo, o transcendente, entre outros temas que marcam a contemporaneidade. “Nossa época, que ama todos os tipos de excesso, a desmedida, o moralmente inadmissível, o horror, parece ter esgotado todos os recursos da emoção e do desejo de ver. Por meio dessa coleção, temos diante de nós não um espetáculo do pior, mas uma antologia do extremo, uma estética que só o pêndulo da história poderia, num ou noutro momento, representar”, explicam os curadores.

Deve-se ressaltar que, no período delimitado pelos trabalhos reunidos nesta exposição, ocorreram transformações radicais no âmbito da cultura e da comunicação, o que alterou a percepção que temos hoje do mundo e, consequentemente, da fotografia. “É nesse contexto de permanente transformação da fotografia que esta exposição deve ser apreciada, tanto por aquilo que traz de icônico e emblemático, quanto, por outro lado, pelo que eventualmente revela como fugaz e transitório, em função da própria dinâmica da vida, dos costumes e das culturas”, explica Sergio Burgi.

A exposição Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris foi organizada a partir do acervo da MEP (que possui uma coleção de mais de 25 mil fotografias originais) e exposta durante o Mois de la Photo (Mês da Foto) de 2010, em Paris. A mostra ficou em cartaz no centro cultural do IMS no Rio de Janeiro de junho a agosto deste ano.

Veja a lista completa de fotógrafos que compõem a exposição (ordem alfabética): 25/34 Photographes, Alberto Ferreira, Andres Serrano, Ansel Adams, Bernard-Pierre Wolff, Bettina Rheims, Bill Brandt, Bruce Davidson, Claude Alexandre, Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Christine Spengler, David Nebreda, Diane Arbus, Don McCullin, Duane Michals, Edward Weston, Elliott Erwitt, Emmet Gowin, Fouad Elkoury, Gabriele Basilico, George Dureau, George Robert Caron, Helmut Newton, Henri Cartier-Bresson, Irving Penn, Jean Depara, Jean-Philippe Charbonnier, Jeanloup Sieff, Joel-Peter Witkin, Larry Clark, Manuel Álvarez Bravo, Marc Riboud, Martial Cherrier, Martin Parr, Miguel Rio Branco, Neil Armstrong, Oumar Ly, Pierre et Gilles, Pierre Molinier, Pierre Verger, Raphaël Dallaporta, Raymond Depardon, Richard Avedon, Robert Frank, Robert Mapplethorpe, Rodrigo Braga, Roger F. Ballen, Rogério Reis, Sebastião Salgado, Seymour Jacobs, Shomei Tomatsu, Tony Ray-Jones, Touhami Ennadre, Valérie Belin, Vik Muniz.

Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de La Photographie – Paris

184 pp.

21 x 26 cm

ISBN 978-85-86707-69-8

R$75,00

Exposição Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de La Photographie – Paris

Vernissage: 20 de setembro de 2011, às 19h30

Exposição: de 21 de setembro a 27 de novembro de 2011

Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 13h às 19h

Sábados e domingos, das 13h às 18h

Entrada franca.

Classificação: 14 anos

Instituto Moreira Salles - São Paulo

Rua Piauí, 844, 1° andar, Higienópolis.

Tel.: (11) 3825-2560

Nathalia Pazini
Instituto Moreira Salles
(11) 3371-4490
www.ims.com.br

http://twitter.com/imoreirasalles

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Beuys e Bem Além – Ensinar como Arte

Demorei a escrever minhas impressões sobre esta exposição porque, sinceramente, tinha ficado sem saber o que dizer.

O mote da mostra, descrito no "press-release" abaixo das imagens, já dá a exata dimensão e seu objetivo, que é apresentar a relação entre Joseph Beuys e seus mais destacados alunos, com o contraponto, a convite dos curadores estrangeiros, de semelhante relação entre um destacado mestre brasileiro e seus pupilos, no caso Nelson Leirner.

Há nesta exposição, algumas obras de uma beleza ímpar, tanto no lado alemão, quanto no lado brasileiro, mas há também obras de tamanha vanguarda e arrojo que me fugiram, fiquei sem condições de apreciá-las plenamente.

É um passeio que vale muito a pena, pois ali temos contato com vários artistas e obras que dificilmente teremos outras oportunidades de conhecer ou rever.



Seu Tipo - Ney Matogrosso






INSTITUTO TOMIE OHTAKE

APRESENTA

Beuys e Bem Além – Ensinar como Arte

Coleção Deutsche Bank

Abertura: 12 de setembro, às 20h (convidados) – até 30 de outubro de 2011

Beuys e Bem Além – Ensinar como Arte apresenta obras em papel, diretamente do Acervo do Deutsche Bank, de autoria do influente artista alemão Joseph Beuys (1921-1986), e de seis de seus mais destacados alunos: Lothar Baumgarten (1944), Imi Knoebel (1940), Jörg Immendorff (1945 – 2007), Blinky Palermo (1945-1976), Katharina Sieverding (1944) e Norbert Tadeuz (1940). A exposição documenta a busca de Beuys, como artista e professor, durante o pós-guerra na Alemanha e demonstra a ampla gama de posturas, técnicas e meios que incentivou seus alunos a explorar.

Este projeto, que comemora os 100 anos da presença do Deutsche Bank no Brasil, foi idealizado pelos curadores da Coleção, Friedhelm Hütte, Liz Christensen e Christina März, e se completa ao colocar ao lado do núcleo de Beuys outro artista que, assim como ele, também inovou no ensino da arte e teve papel fundamental na formação de novas gerações. Desta forma, no Brasil, a convite dos idealizadores alemães, os curadores brasileiros, Agnaldo Farias e Paulo Miyada, agregaram à exposição obras do artista e professor iconoclasta Nelson Leirner (1932), juntamente com trabalhos de sete se seus ex-alunos: Caetano de Almeida (1964), Leda Catunda (1961), Dora Longo Bahia (1961), Iran do Espírito Santo (1963), Sergio Romagnolo (1957), Edgard de Souza (1962) e Laura Vinci (1962).

Portanto a mostra traz esta seleção de trabalhos – cerca de 100 vindos da Alemanha e 50 brasileiros – sob a ótica de uma curadoria que vincula arte e educação em uma turnê que passa por seis museus latino-americanos em cinco países deste continente. Não se tem aqui o propósito de identificar uma versão latino-americana de Joseph Beuys, mas sim perceber um intercâmbio de ideias sobre pedagogia e arte, a partir do contexto histórico de cada país. A mostra parte em busca de diferenças e de bases compartilhadas na forma de experimentação e diálogo.

Na condição de artistas e professores excepcionais, cujas aulas gozavam de grande popularidade, Beuys e Leirner revelam vários pontos de intersecção, sobretudo no tocante à natureza disseminadora de seus ensinamentos, o teor político de suas obras e os seus esforços voltados à propagação da arte ao maior número possível de pessoas.

As ideias radicais de Beuys sobre ensino, bem como suas teorias acerca do elevado papel do artista na sociedade, renderam-lhe reputação como um dos artistas mais importantes e polêmicos do século XX. “Minha maior obra de arte é ser professor”, declarou Beuys em uma entrevista concedida à revista Artforum em 1977. “O restante é um produto residual, uma mera demonstração.” A frase reflete a importância por ele atribuída ao magistério, que considerava extensão de sua própria atividade artística. Beuys lecionou oficialmente na Academia de Artes de Düsseldorf de 1961 a 1972 e, de forma alternativa, em projetos realizados em parceria com a Universidad Libre Internacional (1973 - 1988), uma proposta educacional concebida juntamente com o escritor alemão Heinrich Böll (1917-1985).

Beuys descobriu na prática do ensino uma plataforma para suas ideias utópicas e provocativas sobre a “arte como capital social”, e para atuar como defensor de uma abordagem mais ampla e democrática à arte, através da qual as pessoas pudessem participar da criação de novos modelos de arte como “escultura social”. Beuys colocou em xeque as convenções acadêmicas de seu tempo, fundadas na hierarquia, declarando que qualquer um poderia matricular-se em suas aulas de arte, sem nenhum portfólio como pré-requisito, sendo então demitido da Academia com grande alarde e repercussão. Exaltou o engajamento direto da arte à vida, promovendo o ativismo político, frequentando ao mesmo tempo aulas de desenho.

A prática pedagógica de Nelson Leirner, por sua vez, também nasceu de seu engajamento político como artista e da defesa apaixonada da liberdade de expressão, fruto de sua experiência anterior da arte e da cultura anestesiadas pela linha dura do regime militar, iniciada em 1969. Naquele período, Nelson lecionava arte na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e reinventava, em conjunto com seus colegas Julio Plaza, Regina Silveira e Walter Zanini, técnicas não convencionais de treinamento de artistas.

Os métodos adotados por Leirner para minar o sistema pedagógico vigente e rejeitar seu caráter pretensioso seriam memoráveis e, muitas vezes, impiedosos: ele era capaz de tecer elogios e analisar uma obra que alunos de níveis mais avançados poderiam julgar ingênua ou mal estruturada, dar notas seguindo critérios aleatórios, a partir, por exemplo, de cartas de baralho, ou acatar auto-avaliações de alunos, ainda que eles próprios não tivessem conhecimento do motivo pelo qual haviam sido solicitados a fazê-la. Uma simples mesa sobre a qual colocasse uma folha de papel poderia tornar-se espaço de trabalho, e uma sala de aula poderia transformar-se em alguma coisa entre um palco e um púlpito. As aulas de Leirner revelavam-se verdadeiras performances, muito procuradas por alunos de todos os níveis e até mesmo por estudantes já formados, que regressavam para ouvir suas proposições e participar de discussões abertas.

Assim como Beuys, as perguntas e provocações de Leirner tinham claramente o intuito de tirar as pessoas de sua zona de conforto e de rejeitar o mercado como medida ou objetivo de suas investigações. Os alunos de ambos os professores eram, e ainda são, influenciados por esses dois referenciais que vivenciaram regimes militares e por eles foram transformados. Os atos de lançar luzes sobre áreas obscuras e incentivar os alunos a explorarem e defenderem suas próprias posições de forma pessoal, conceitual e material atestaram o comprometimento pedagógico desses dois homens. Valendo-se do poder do humor, da oposição, da mitologia e da performance/representação pessoal, os próprios Beuys e Leirner empregaram a arte como instrumento de navegação para averiguar as falácias em construções de sentido em diferentes sociedades, tendo propiciado estratégias de direcionamento individual por meio da prática educacional e criativa.

Beuys e Bem Além – Ensinar como Arte foi anteriormente exibida em Santiago do Chile, Buenos Aires, Cidade do México e Monterrey, também no México, e em Bogotá.

Exposição: Beuys e Bem Além – Ensinar como Arte

Abertura convidados: 12 de setembro, às 20h

Visitação: de 13 de setembro a 30 de outubro de 2011, de terça a domingo, das 11h às 20h – entrada franca

Instituto Tomie Ohtake

Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés) - Pinheiros SP Fone: 11.2245-1900

Informações à Imprensa

Marcy Junqueira – Pool de Comunicação

Contato: Martim Pelisson / Fone: 11.3032-1599

marcy@pooldecomunicacao.com.br / martim@pooldecomunicacao.com.br

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Forever - Dudu Santos

Neste sábado foi aberta a exposição Dudu Santos na Galeria Jaqueline Martins com obras de três fases do artista.

Ainda não conhecia nada sobre seus trabalhos, e qual não foi minha surpresa ao deparar com belíssimas telas, que não constavam do release da assessoria de imprensa.

Os quadros apresentam uma densidade ora instigante, ora inquietante, tomando nossa atenção fazendo-nos apreciá-las com vagar e atenção.

Uma coisa que me chamou a atenção foi o capricho e o entusiamo com que Jaqueline Martins desenvolve seu trabalho, pois além da magnífica instalação da mostra, nos brindou com um catálogo muito bem feito, para ser guardado e sempre consultado. A satisfação com que recebe seus convidados, mesmo aqueles que não são compradores, demonstra que mais do que uma comerciante de artes, é uma arte-educadora, uma formadora de opiniões.

Abaixo das imagens, texto de Mario Gioia de apresentação da exposição e o "press-release", fornecidos pela direção da galeria.





Tudo igual - Lulu Santos









Anárquica persistência

É uma das cenas inaugurais de Kippur - O Dia do Perdão (2000). Os amantes se envolvem com intensidade em meio ao corrimento de tintas. O entrelaçamento dos corpos pulsando na matéria das cores serve de contraponto à rigidez das composições geométricas das bandeiras, símbolos de lados opostos em um campo de batalha, o palco principal vivenciado pelos protagonistas do título. A hábil construção do diretor israelense Amos Gitai no longa, de forte tom documental e crítico, confere, assim, ao componente pictórico algo que não pode ser desligado da vida, da liberdade.

E o caráter livre norteia a carreira de Dudu Santos, na ativa desde 1961. Nos 50 anos de trajetória, talvez um dos momentos mais midiáticos se constituiu quando unia performance e pintura,em parcerias com modelos e atrizes. Tais eventos chamavam um numeroso público para a casa de dimensões amplas no Morumbi, em São Paulo, na qual um mezanino atestava a popularidade dos eventos, já que ficava repleto de observadores. A união entre o gesto do artista e os movimentos da bailarina nos faz remeter às provocativas Antropometrias da Época Azul (1960), ações do visionário Yves Klein (1928-1962) em consonância com suas modelos. A proposta de mínimas restrições de Dudu, em sintonia com os anos pós-ditadura militar, já era compreendida, por exemplo, na exposição Pinxit (1993), realizada nas galerias Dan e Mônica Filgueiras. Para a mostra, Lygia Fagundes Telles escreve: “Na ruptura com o conformismo das regras cristalizadoras, ele exige o movimento na sua instigante sucessão de imagens que se desencadeiam como num sonho. Ou delírio, mas num delírio que é tumulto e, ao mesmo tempo, ordem (...)”1.

Para a individual na galeria Jaqueline Martins, o artista ainda tem no gesto um forte procedimento de sua poética, mas a paleta parece mais escura, não solar. Aquele prazer do fazer artístico, tão em voga nos anos 80, nos quais Dudu também tinha correspondências com obras de nomes hoje mais lembrados _Jorge Guinle pode ser citado nesse grupo_ e menos incensados atulamente, mas com representatividade em coleções institucionais importantes _Adir Sodré, Ana Horta, Cláudio Fonseca, Felipe Andery, por exemplo_, persiste, mas parece ser resultante de um olhar mais crítico. Nesse sentido, as esculturas negras exibidas na mostra formam um conjunto também pouco otimista. Talvez seja o lado mais expressionista do artista impondo-se. A lembrar, Dudu foi assistente de Marcello Grassmann, outro nome de caminho à margem na arte brasileira e um dos eixos do expressionismo nacional.

Ao mesmo tempo, em produções paralelas, a não reverência do artista continua a chamar a atenção. Paradigmática nesse sentido é a série em que Dudu pinta o próprio caderno de assinaturas de sua exposição no Clube dos Artistas e Amigos da Arte, em 1961. Pelas páginas preenchidas por nomes e sobrenomes que hoje intitulam logradouros em pontos variados de São Paulo, pinceladas preenchem anteriores vazios, anarquizando o que tinha se sedimentado como um relicário de elite.

“Não existem mais fronteiras ou estilos. Tudo vale, nada vale. A história da arte foi virada de cabeça para baixo, e nesse sentido os ícones invertidos de Baselitz, Salomé, Kosuth valem como um símbolo da nova pintura. Em vôo cego, morcegante, os artistas penetram em todos os desvãos ou escaninhos da história da arte, do realismo e do simbolismo”2, escreve Frederico Morais, ao analisar a produção do começo da década de 80.

“Foi uma delícia”3, diz José Roberto Aguilar, importante artista dos interstícios entre pintura, performance e videoarte. Ele diz isso ao comparar os politizados anos 70 e sua produção na década seguinte, na importante mostra Arte como Registro, Registro como Arte: Performances na Pinacoteca de São Paulo, com apurada curadoria de Ana Paula Nascimento e Gabriel Moore Forell Bevilacqua. Tal exposição tem grande interesse por atestar que um segmento da produção da época, atualmente pouco visto e veiculado, realizado por artistas de trabalhos mais efêmeros e de difícil classificação começa a gerar estudos mais detidos do estabilishment institucional. Mesmo se atendo a obras executadas no museu paulistano, não seria absurdo construir pontes entre a produção de finas amarras de Dudu e muitos dos registros presentes na coletiva, como o de Genilson Soares, hoje também artista do elenco da Jaqueline Martins.

“Enfim, fundamentada nas ambiguidades do homem e nas tensões internas às obras, a atual produção de Dudu Santos indica a descoberta de um novo rumo e expressa o controle intelectual e o despudor anarquista de um artista que teima constantemente em renascer”4, analisa, com brilho, Miguel Chaia, para catálogo da galeria Denis Perri, em 1988. E é reconfortante perceber que, 23 anos depois, tal olhar ainda é válido.

Mario Gioia

Dudu Santos exibe pinturas, desenhos e objetos na Galeria Jaqueline Martins

Mostra “Forever”, que será inaugurada em 10 de setembro, permanece em cartaz até 11 de outubro

Comemorando 50 anos de sua primeira exposição individual, em 1961 no Clube dos Artistas e Amigos da Arte, em SP, o pintor Dudu Santos inaugura no sábado, 10 de setembro, a mostra “Forever”, na Galeria Jaqueline Martins, sua representante desde o começo de 2011. Artista reconhecido pela densidade e expressividade de sua obra, Dudu volta a realizar uma individual em São Paulo após 6 anos. A entrada é franca.

A exposição - “Forever” reúne pinturas expressionistas (acrílicas sobre tela), 20 desenhos das séries Dark, Estudos e Poeta, além de 4 objetos criados pelo artista, cuja paleta de cores traz, em geral nessa mostra, um aspecto mais denso e crítico.

“Para a individual na Galeria Jaqueline Martins, Dudu Santos tem no gesto um forte procedimento de sua poética, mas a paleta parece mais escura, não solar. Aquele prazer do fazer artístico, tão em voga nos anos 80, persiste, mas parece ser resultante de um olhar mais crítico. Nesse sentido, as esculturas negras exibidas na mostra formam um conjunto também pouco otimista. Talvez seja o lado mais expressionista do artista impondo-se”, avalia o crítico Mario Gioia em texto assinado para o catálogo da exposição.

Efeméride – Durante essas 5 décadas dedicadas à arte, Dudu Santos atuou também como marchand, em um período de 10 anos compreendido entre 1976 e 1985. Sua produção artística nesse intervalo foi menos constante, tendo sido retomada após sua saída da Grifo Galeria de Arte de São Paulo, que tornou-se um dos espaços fundamentais para a arte contemporânea no cenário nacional da época e que é um marco lembrado ainda hoje como fator constituinte do mercado de artes atual.

Sobre o trabalho de Dudu Santos assim se expressaram importantes personalidades do meio artístico brasileiro:

“Nesta fase de revolução e libertação, a obra de Dudu Santos adquire instantes de sortilégio. Magia. Na ruptura com o conformismo das regras cristalizadoras, ele exige o movimento na sua instigante sucessão de imagens que se desencadeiam como num sonho. Ou delírio, mas num delírio que é tumulto e ao mesmo tempo, ordem, a ordem que nasce da energia criadora. Nessa energia de lucidez em meio da paixão, os impulsos de luxúria, desafio e também fragilidade na repentina cegueira da dançarina que passa a ser conduzida pelo criador na sua busca sem tempo para os pinceis, Dudu Santos toma das cores e as submete com suas próprias mãos.”

LYGIA FANGUNDES TELLES

“Durante todos esses anos, Dudu Santos tem perseguido essa verdade advento, fazendo de sua história particular a história da arte brasileira, uma história que, em geral, se nutre da história da arte internacional. Sua arte é a projeção de sua história particular, dos adventos e eventos artísticos de que participou. E não foram poucos, nesses últimos trinta anos de percurso. E como a origem da obra de arte está na origem do Ser, foram muitas as mudanças, as metamorfoses, as transubstanciações do Ser e da Obra.”

ALBERTO BEUTTENMüLLER

“Não se faz sucesso impunemente. A brilhante atuação da Galeria Grifo em São Paulo (e que não é apenas de mercado, mas também de contribuição real á cultura) transformou a imagem de Dudu Santos na do marchand por excelência. Inteligente, sensível e informado, ele se tornou o mediador ideal e confiável nesses delicados terrenos em que a beleza convive com o dinheiro.”

OLIVIO TAVARES DE ARAÚJO

Dudu Santos - Iniciou os estudos de arte em 1953, com a artista húngara Kizly Piroszka. Seu talento foi moldado ainda através de estudos com nomes das Artes como Eduardo Sued, Nelson Nóbrega, Yolanda Mohaly, Marcelo Grassmann, Renina Katz e Mario Gruber.

Sua primeira mostra individual aconteceu em 1961 e suas obras estão no acervo de grandes museus e pinacotecas como o MAC - Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, MAB - Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado, MOA, Museum de Art - Japão. Dudu Santos fez mais vinte exposições individuais no Brasil e no exterior, participou de diversas bienais nacionais e internacionais. O artista plástico ostenta um currículo vasto e respeitável é hoje um dos principais nomes em atividade do seleto mundo das artes do Brasil.

Galeria Jaqueline Martins - Com foco na arte contemporânea e na constante pesquisa em (re) descobrir artistas que têm uma importância cultural fundamental para a cena atual da arte contemporânea, a Galeria Jaqueline Martins representa artistas como Alex Vallauri, Genilson Soares, Alzira Fragoso, Adrianna Eu, Azeite de Leos, Daniel Nogueira, Dudu Santos, Nara Amélia e Ronaldo Aguiar.

Serviço:

Exposição Forever, de Dudu Santos

Local: Galeria Jaqueline Martins

Endereço: Rua Virgilio de Carvalho Pinto, 74 – Pinheiros – São Paulo, SP

Telefone: (11) 2628 1943

Abertura para convidados: 10 de setembro, sábado a partir das 11h

Data: de 12 de setembro a 11 de outubro

Horários: de segunda a sexta das 11h30 às 19h; sábado das 11h às 17h

Entrada franca

Informações para a imprensa:

Vicente Negrão Assessoria (11) 3060.8397/ (11) 3064.2563

Vicente Negrão (11) 9203.0475 – vicente@vicentenegrao.com

Filipe Bezerra – (11) 8102.8116 – filipe@vicentenegrao.com

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Saul Steinberg – As aventuras da linha

Foi aberta na Pinacoteca, sábado 03/09/2011, uma bela exposição com obras do cartunista e ilustrador americano Saul Steinberg, com obras de diversos períodos de sua criação.

Foi também pintor e escultor com obras expostas em vários museus e galerias do mundo, sem se fixar em um único gênero artístico.

Os trabalhos apresentados carregam em seus traços uma fina ironia, quando não uma ácida critica aos usos e costumes americanos das décadas do pós-guerra, expondo e explorando suas idiossincrasias.

Os traços, aparentemente simples, carregam uma enorme simbologia, fazendo com que gastemos algum tempo a apreciá-los.

Abaixo das imagens, o "press-release" com as informações sobre a mostra e o artista, fornecidos pela assessoria de imprensa da Pinacoteca.





Englishman in New York - Sting









Saul Steinberg – As aventuras da linha

A Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Instituto Moreira Salles apresentam a exposição Saul Steinberg. As aventuras da linha, com cerca de 110 desenhos do consagrado artista gráfico pertencentes ao acervo da Saul Steinberg Foundation. A mostra, organizada em parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, tem curadoria da historiadora Roberta Saraiva e apresenta obras produzidas por Steinberg entre os anos 1940 e 1950. Para essa exposição, foram restaurados 43 trabalhos.

Em Saul Steinberg: as aventuras da linha, são apresentadas obras que destacam o momento em que Steinberg se torna um artista internacional. Para isso, foram escolhidos trabalhos que fizeram parte de três importantes exposições: a primeira, Fourteen Americans, coletiva organizada pelo MoMA, em 1946; a segunda, uma mostra individual inaugurada em Nova York, em 1952, nas galerias Sidney Janis e Betty Parsons; e a terceira, uma exposição montada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), também em 1952. Segundo a curadora Roberta Saraiva, “Aqueles que só conhecem o Steinberg da New Yorker ficarão surpresos com a exposição”.

Saul Steinberg ficou conhecido por, usando às vezes uma única linha, questionar em seus desenhos o papel das rotinas, a vida que levamos. A exposição revela ainda um pouco da lógica do trabalho do artista: o aspecto “serial” de sua criação. “Steinberg costumava trabalhar um tema ou motivo até esgotá-lo, produzindo longas séries de variações gráficas”, explica Roberta Saraiva. A mostra reúne, portanto, um número generoso de cowboys, trens, monumentos fictícios, pássaros, gatos e bichos sem nome, mulheres em casacos de pele, desfiles, desenhos de arquitetura, bombardeios e falsos documentos (passaportes e diplomas com assinaturas ilegíveis, selos e carimbos que Steinberg colecionava).

Em Saul Steinberg: as aventuras da linha, também estão expostos os desenhos murais que o artista criou para a Trienal da Milão, de 1954. São quatro desenhos em rolos de papel em formato ousado e proporções arquitetônicas que até então nunca foram expostos em conjunto: A linha, com 10 metros de comprimento, Tipos de arquitetura, com 7 metros, Litorais do Mediterrâneo, com 5 metros, e Cidades da Itália, com 3 metros. Todos possuem cerca de 45 cm de altura. Também integram a mostra dois trabalhos com inspiração brasileira: Pernambuco, uma mistura de personagens, bichos e motivos locais; e Grande Hotel de Belém, ambos realizados não propriamente no Brasil, mas a partir de desenhos de anotação e de cartões-postais colecionados por Steinberg durante uma viagem pelo país em 1952.


Steinberg no Brasil

Essa será a segunda vez que a obra de Steinberg será exposta no Brasil. Em setembro de 1952, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) inaugurou uma exposição individual do artista, com uma variação da mostra inaugurada em Nova York, em janeiro do mesmo ano, nas galerias Sidney Janis e Betty Parsons. A vinda da obra de Steinberg ao Brasil na década de 1950 foi possível pela amizade do artista com Pietro Maria Bardi, então diretor do Masp, e os irmãos Cesare e Victor Civita. Bardi, assim como Steinberg, havia colaborado, na década de 1930, com a revista Il Settebello, quando ambos ainda moravam na Itália. É dessa época também a aproximação de Steinberg com os irmãos Civita, que atuavam no mercado editorial italiano. Anos mais tarde, Cesare se tornou agente de Steinberg. Foi ele quem agenciou as primeiras publicações de desenhos de Steinberg em revistas, como a The New Yorker. Foi devido a Cesare também que a revista carioca Sombra publicou uma seleção de desenhos de Steinberg, reproduzidos na capa e no miolo do seu primeiro número, em 1940. Foi a primeira revista do mundo a publicar um desenho de Steinberg em sua primeira página.

Catálogo Saul Steinberg. As aventuras da linha

O catálogo reúne as imagens das obras expostas, além de publicar pela primeira vez os desenhos que Steinberg fez sobre o Brasil. O artista veio ao país em 1952 por conta da abertura da exposição no Masp e, com sua esposa Hedda Sterne, viajou por Aparecida, Petrópolis, Salvador, Recife, Belém e Manaus, além de Rio de Janeiro e São Paulo, sempre registrando suas impressões em pequenos cadernos. No catálogo, a curadora Roberta Saraiva e o ilustrador Daniel Bueno fazem um diário de viagem de Steinberg no Brasil, tendo como base esses desenhos, assim como cartões-postais, bilhetes de viagem e outros itens, todos pertencentes ao acervo da biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale.

O catálogo traz ainda um texto do crítico de arte Rodrigo Naves; uma entrevista de Steinberg cedida a Grace Glueck; um perfil do artista por Adam Gopnik, publicado na revista The New Yorker logo após a sua morte, em 1999; e um texto de 1952 do então professor da FAU-USP, Flavio Motta, publicado no jornal Diário de São Paulo, por ocasião da primeira mostra de Steinberg no Brasil.

Livro Reflexos e sombras:

Além do catálogo da mostra, o Instituto Moreira Salles publica Reflexos e sombras, livro de memórias de Saul Steinberg. A publicação nasceu de longas conversas entre o desenhista e o escritor e amigo italiano Aldo Buzzi, que depois as transcreveu e editou. O livro é dividido em quatro capítulos, nos quais Steinberg descreve as lembranças de sua infância na Romênia e de sua família; a viagem a Milão em 1933, onde estudou arquitetura e viveu sob o fascismo; sua emigração para os Estados Unidos em junho de 1942 e suas impressões sobre o país; e suas reflexões sobre a própria arte e o mundo artístico em geral.

Reflexos e sombras foi publicado pela primeira vez na Itália, em 2001, pela Adelphi Edizioni. Em 2002, o livro foi publicado em inglês pela Random House e agora, pelo IMS, tem sua primeira versão em língua portuguesa, com tradução de Samuel Titan Jr. A edição brasileira é a única amplamente ilustrada, com 63 imagens.



Sobre Saul Steinberg:

Saul Steinberg nasceu em 15 de junho de 1914, no lugarejo romeno de Râmnicul-Sarat. Seis meses mais tarde, sua família mudou-se para Bucareste, onde Steinberg passou toda a infância e a adolescência. Depois de um ano na Universidade de Bucareste, onde estudou filosofia e literatura, Steinberg foi para Milão para estudar arquitetura e completou sua graduação em 1940. Na cidade italiana, começou a publicar desenhos numa espécie de folhetim chamado Bertoldo, o que lhe valeu certa fama – em 1940, por exemplo, publicou alguns desenhos na revista Sombra, do Rio de Janeiro.

Em 1941, sob a ameaça do fascismo de Mussolini, Steinberg deixou a Itália, chegando aos Estados Unidos via Santo Domingo. Naturalizado em 1943, serviu no departamento de inteligência da marinha americana e no Office of Strategic Services (OSS) em missões na China, na Índia, no Norte da África e na Itália. Em 1944, casou-se com a pintora Hedda Sterne e estabeleceu-se em Nova York, onde obteve sucesso imediato, publicando prolificamente nas principais revistas do país, com destaque para a longa colaboração com a revista The New Yorker.

Steinberg compilou boa parte de sua produção em livros de desenhos que se tornaram clássicos do gênero, como All in Line (1945), The Art of Living (1949), The Passport (1954), The Labyrinth (1960), The New World (1965), The Inspector (1973) e The Discovery of America (1992). Ao mesmo tempo, realizou muitas exposições nos Estados Unidos e no exterior – inclusive no Brasil, onde exibiu seus desenhos no Museu de Arte de São Paulo em 1952. Sua obra foi tema de duas grandes retrospectivas: Saul Steinberg (1978), no Whitney Museum, e Saul Steinberg: Illuminations (2006), organizada pelo Frances Lehman Loeb Art Center, Vassar College. Saul Steinberg morreu em Nova York em 1999.