Já tinha dito aqui que uma das boas coisas de se ver uma exposição de um artista do qual não conhecemos nada é a surpresa de encontrar grandes obras.
Foi o que ocorreu com mostra, que apesar de muito divulgada e incensada pelos grandes meios de comunicação, confesso que por pura preguiça não havia lido nenhuma matéria sobre ela.
Ocupando o espaço nobre de mostras temporárias da Pinacoteca, apresenta obras de diversas fases, técnicas e suportes, mostrando o profundo conhecimento e curiosidade do artista em diferentes formas de expressão.
Como grande fã da arte concreta, qual não foi o meu deleite em perceber obras desta escola expandidas em tridimensionalidade, sejam em esculturas ou colagens, conseguindo nos encantar e intrigar com os efeitos conseguidos.
Os trabalhos em granito negro, um material por si só complexo e de difícil manuseio, que além de sua extrema dureza é também frágil, pois qualquer cinzelada mal aplicada pode romper sua estrutura, apresentam uma leveza bela, delicada e sutil, arrancada deste material .
Mais um grande evento nessa cidade que é a capital cultural da América Latina.
Pulsar - Caetano Veloso
Abaixo das imagens, o "press-release" fornecidos pela assessoria de imprensa da Pinacoteca.
Waltercio Caldas: O Ar Mais Próximo e Outras Matérias
A Pinacoteca de São Paulo, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, apresenta a
exposição Waltercio Caldas: O Ar Mais Próximo e Outras Matérias, uma mostra panorâmica
da produção do artista (1970 a 2011), cuja trajetória coerente propicia uma reflexão entre seus
primeiros trabalhos e os atuais. Com cerca de 90 obras, entre instalações, esculturas, objetos
e desenhos. Dentre as obras selecionadas para a mostra, nove são inéditas no Brasil: Eureca
(2001), O que é mundo. O que não é (2011), Verde por Dentro (2008), Planisfério (2011), Talco
(2008), Donde (2009), O Ovo (2011), Azul de Superfície (2005) e Asas (2008).
Waltercio Caldas ocupa um papel importante no cenário artístico do País a partir da segunda
metade do século XX. Segundo um estudo do Itaú Cultural, entidade que pertence ao Grupo
Itaú - patrocinador da mostra em São Paulo, Waltercio é um dos artistas brasileiros que mais
realizou exposições. 25, entre os anos 1987 e 2012. Dono de uma linguagem bastante
particular, seu trabalho não é passível de enquadramento artístico. Sem ser minimalista,
conceitual ou formalista, ele tangencia vertentes criativas e referências nacionais e
internacionais para construir seu discurso artístico.
Uma das principais questões levantadas na exposição é a capacidade das obras de testar nossa
percepção acerca daquilo que vislumbramos. O trabalho de Waltercio é um constante desafio
para nossa cognição e para o modo como encaramos e reconhecemos um conjunto de
materiais. A escolha de elementos simples e familiares permite a aproximação com a
composição, mas logo um primeiro reconhecimento superficial sobre a obra se desenvolve em
outras possibilidades de interpretação e de sentidos presentes no trabalho. A obra de Waltercio
proporciona um intenso exercício de observação quem a observa. As instalações permitem que
nossa capacidade visual se amplie, visto que aquilo que reconhecemos prontamente logo se
transforma.
Para Pérez-Barreiro, Waltercio desafia os hábitos visuais do público ao propor novas
percepções do espaço ocupado pela obra de arte. Alguns de seus objetos de mármore, vidro,
madeira ou aço exibem superfícies que refletem o entorno; outros obedecem a lógica da
transparência, convidando um olhar que os atravesse. Aquário completamente cheio (1981),
um recipiente de vidro quase transbordando com água, une essas duas características: reflete
o espaço circundante como um espelho e funciona como uma lente para ver o que está por
trás sob uma perspectiva diferente.
Ao dialogar com o ambiente onde está inserida, a arte de Caldas requisita a imaginação do
observador. O significado das peças surge na interação com o visitante, que é estimulado a
engajar seus sentidos numa experiência corpórea e intelectual. Escultura em granito (1986),
por exemplo, é um retângulo negro arqueado que se equilibra sobre suas extremidades.
As superfícies curvas criam a ilusão de que um material pesado como o granito sólido pode levitar
sem esforço algum e traem a nossa compreensão tanto da densidade da pedra quanto da Lei
da Gravidade.
De fato, leveza e economia são qualidades marcantes nas obras de Caldas, cujo objetivo
declarado é produzir um trabalho presente ao máximo através da ação mínima. Mesmo em
obras com vários elementos, estes costumam se reduzir a uma simplicidade geométrica: são
círculos, retas e pontos que conversam entre si em composições harmoniosas, que a co-curadora
Ursula Davila-Villa compara a arranjos musicais. “Realmente, a sua arte desempenha
no espaço da mesma forma que a música: ela exibe uma grande presença etérea e uma quase
absoluta ausência física”.
Elegantes, as obras de Waltercio atraem o visitante por sua beleza e logo o envolvem em
questões conceituais ligadas ao espaço e ao tempo. Essas preocupações estão presentes na
paradigmática instalação que dá nome à mostra: O Ar Mais Próximo, de 1991. Nela, fios de lã
coloridos pendem do teto modelando dois delicados arcos invertidos que cortam o ar e se
cruzam em apenas um ponto. Esse eixo varia toda vez que o trabalho é instalado, pois Caldas
redesenha o arranjo geométrico respondendo às paredes, janelas, luz e escala de cada
ambiente onde é montado.
Se o espaço das obras de Waltercio Caldas é incerto, o tempo para experenciá-las também se
pretende diferente: “É desacelerado o suficiente para permitir a dúvida, estranhamento,
questionamento e, em última análise, a criação de um novo significado”, coloca Pérez-Barreiro.
Outra parte importante de sua produção são os livros de artista, nos quais a palavra escrita é
usada de forma lúdica e se destacam assuntos como história da arte, filosofia e sistemas de
conhecimento. O livro Velázquez (1996) resgata algumas de suas questões favoritas como a
presença e a ausência, a realidade e a ilusão. Usando Photoshop, Caldas manipulou os textos
e as imagens de um livro didático de história da arte removendo a nitidez de palavras e
imagens, além de apagar figuras humanas de todas as reproduções transformando o ambiente
de quadros como “As Meninas” em salas vazias. Dessa maneira, ele questiona a autoridade do
livro como principal meio pelo qual conhecemos Velázquez, em oposição ao encontro físico
com suas próprias pinturas. Pérez-Barreiro enxerga este trabalho como uma crítica
institucional, mas também uma “homenagem à história da arte, e às maneiras nas quais
artistas como Velázquez podem continuar a apresentar problemas interessantes para o mundo
contemporâneo. O trabalho é uma conversa com o passado, em vez de um simples comentário
sobre ele, e é isto que lhe concede tanto poder.”
Um olhar compreensivo ao conjunto da obra de Waltercio Caldas evidencia não apenas o quão
variada é a sua prática, mas também como o ambiente de exposição é capaz de afetá-la.
“Creio que esta seleção realizada pelos curadores é bastante representativa de minha
atividade artística e até mesmo aponta para alguns desdobramentos que, para minha alegria,
já posso ver no horizonte. É isto que espero de uma exposição como esta: novas situações e
novas soluções plásticas", conclui Waltercio.
Sobre o artista
Nasceu no Rio de Janeiro em 1946. Já expôs individualmente no Museu de Arte Moderna no
Rio, na Kanaal Foundation, Bélgica, no Stedelijk Museum em Amsterdã, e na Christopher
Grimes Gallery em Santa Monica, entre outros espaços. Waltercio Caldas participou da Bienal
de Veneza em 1997 e 2007, assim como de múltiplas Bienais do Mercosul e de São Paulo.
Seu trabalho está nas coleções do Museum of Modern Art, Nova York; Blanton Museum of Art,
University of Texas, Austin; National Gallery of Art, Washington, D.C.; Museu de Arte Moderna,
São Paulo; Colección Patricia Phelps de Cisneros, Venezuela/Nova York; e Bruce and Diane
Halle Collection, Scottsdale, entre outras. No acervo da Pinacoteca de São Paulo encontram-se
duas obras de Waltercio Caldas: Sem título (1997) e Uma estória de pedra (1996).
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