Essa é uma exposição que vale várias visitas, pois além de seu gigantismo, espalhada no quatro pisos da OCA, também uma magnífica obra de arte de Neimeyer, apresenta um belíssimo apanhado do que de bom se produziu nas artes plásticas brasileiras desde o descobrimento.
Com obras dos artistas das missões estrangeiras, como as francesas, holandesas e alemãs, até aos nossos contemporâneos ainda vivos, podemos perceber o rigor com que todas essas preciosidades foram adquiridas para se montar essa coleção, que apesar de particular, já é um patrimônio nacional.
Essa coleção é em si uma enciclopédia de artes brasileiras pois seus curadores não demonstram predileção por nenhuma escola ou movimento artístico, tendo em seu acervo preciosos exemplos de tudo de bom que se produz ou se produziu por aqui.
Um lindo passeio que se completa com a visita ao MAM, onde ocorre a mostra "O impressionismo e o Brasil".
Tropicália - Caetano Veloso
Abaixo das imagens, o "press-release", fornecidos pela assessoria de imprensa do Itaú Cultural.
Uma constelação da arte brasileira celebra os 30 anos do
Itaú Cultural em mostra na Oca
No maior recorte do Acervo de Obras de Arte Itaú Unibanco
exibido em conjunto até hoje, que vai da primeira obra adquirida por Olavo
Egydio Setubal, no final dos anos de 1960, às novas aquisições para a coleção e
a reconstrução da escultura pública de Ascânio MMM – retirada em 1989 pela
prefeitura para manutenção, foi dada como irrecuperável e não voltou ao seu
lugar –, a exposição Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos comemora
três décadas de existência do instituto dedicadas às artes e à cultura brasileiras
e dá visibilidade à cadeia de ações desempenhada pelo instituição desde a sua
fundação, em 1987.
A exposição Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30
Anos, com abertura para convidados no dia 24 de maio e apresentação ao
público de 25 de maio a 13 de agosto, ocupa os mais de 10 mil metros quadrados
da Oca, um dos símbolos arquitetônicos de São Paulo, integrante do conjunto de
instalações do Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer. Com curadoria
de Paulo Herkenhoff, co-curadoria de Thais Rivitti e Leno Veras, realizada em
colaboração com as equipes do instituto e expografia de Álvaro Razuk, a mostra
apresenta ao público mais de 750 obras – 48 delas recém adquiridas –
pertencentes ao Acervo
de Obras de Arte Itaú Unibanco.
de Obras de Arte Itaú Unibanco.
Em 1969, o empresário Olavo Egydio Setubal adquiriu Povoado
numa Planície Arborizada, do pintor holandês Frans Post, a primeira obra de
um conjunto que atualmente soma cerca de 15 mil peças reunidas neste acervo
mantido e gerenciado pelo Itaú Cultural – todas adquiridas com recursos
próprios. Complementado pelas coleções de Arte Cibernética e Filmes e Vídeos de
Artistas, formadas pelo instituto, hoje é tido como um dos maiores acervos
corporativos do mundo e o maior da América Latina (leia mais aqui, Acervo).
Alguns anos depois, em 1987, Setubal lançou a pedra base do projeto – as
Galerias Itaú –, que se tornaria o Itaú Cultural, uma das mais importantes
instituições culturais em atividade no país, com atuação nacional, respeitando
e conferindo visibilidade à diversidade das expressões culturais em todo o
território brasileiro.
Para reunir essa história que se mescla à da construção do
Brasil, os curadores optaram por apresentar uma constelação de 20 núcleos a
serem percorridos pelos visitantes, fazendo articulações e linhas de
continuidade e ruptura entre eles. Os trabalhos permeiam os quatro andares da
Oca, procurando estabelecer uma leitura ampliada do acervo. Sem seguir uma
sequência cronológica e construindo nexos e diálogos diversificados entre as
obras, o público é levado a descobertas estéticas, linguísticas, conceituais e
políticas, dando indicações para que novos modos de ver a arte brasileira sejam
construídos.
A exposição busca, ainda, dar visibilidade à cadeia de ações
desempenhada pelo instituto nestes 30 anos: a formação de uma coleção, o
registro de bens culturais, sua preservação e estudo e a difusão da cultura com
a edição de publicações e a realização de debates, exposições e extensa
programação. Elas perpassam a mostra, entre produções de obras selecionadas
pelo programa Rumos, um dos principais editais de produção de arte e cultura no
país, e a enciclopédia, que deu origem ao instituto e hoje se tornou o maior
compêndio de arte e cultura brasileira na web, passando pelas atividades da
instituição que abrangem as mais diversas áreas de expressão artística e cultural
no Brasil.
Algumas obras
Entre as quase oito centenas de obras que podem ser vistas
na exposição, as mais antigas, pela data, são dois mapas Jodocus
Hondius: AmericaSeptentrionalis, de 1613, e Henricus Hondius:
Accuratissima Brasiliae Tabula, de 1630, e seis livros raros Sebastiano
Beretario: Iosephi Anchietatae Societatis Iesu Sacerdotis In Brasilia Defuncti
Vita, de 1617, Nicolaus Orlandini: Historiae Societatis Iesv,
de 1620, George de Spilbergen: Miroir Oost & West-Indical Auquel
sont defcriptes les deux dernieres Navigations, de 1621, Sebastiano
Beretario: Vita del Padre Gioseffo Anchieta, de 1621, Guilhermo
Piso, Georg Marcgraf: Indiae Utriusque, de 1648, e Simão de
Vasconcellos: Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil, 1663.
Todas provenientes da Coleção Brasiliana do Acervo de Obras de Arte Itaú
Unibanco.
Há, também, trabalhos do pintor brasileiro Candido
Portinari, considerado um dos mais importantes artistas nacionais do século XX,
Emiliano Di Cavalcanti, a escultora Maria Martins, o artista Hélio Oiticica, o
escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret e a artista Lygia Clark. Entre os
modernistas estrangeiros está o pintor francês Fernand Leger.
Como um presente à cidade, a organização desta mostra
proporcionou a reconstrução da escultura vertical sem título, com 5,35 metros
de altura, de Ascânio MMM. O trabalho foi encomendado nos anos de 1970, quando
Olavo Setubal era prefeito de São Paulo. Terminadas as obras do metrô Sé, ele
criou, ao lado, uma área para reunir um conjunto de 15 esculturas de artistas
renomados, como Sergio Camargo, Rubem Valentim, Felícia Leirner, além de
Ascânio. Em 1989, a obra foi retirada para restauração pela prefeitura da época
para manutenção, mas foi dada como irrecuperável e não voltou ao seu lugar (leia
mais sobre o assunto, aqui,
Obras de Ascânio MMM).
Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos inclui,
ainda, peças significativas de artistas contemporâneos, como Adriana Varejão,
Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Berna Reale, Jaime Lauriano, Ayrson Heráclito e
Eder Oliveira. Destes últimos, algumas figuram entre as novas aquisições, como Bandeira
Nacional # 10, Novus Brasilia Typus: invasão, etnocídio, democracia racial e
apropriação cultural e Artefatos # (1, 2 e 3), de Lauriano, todas de
2016; quatro trabalhos da série Cabeças Bori, de Heráclito, ou duas
sem título, de autoria de Eder Oliveira, ambas de 2015.
Os andares
O prédio da Oca, por sua arquitetura específica, no
característico formato hemisférico, cria um espaço fluido, sem arestas, e,
segundo a curadoria, permite que as diferentes visões criadas a partir dessa
coleção possam conviver em pé de igualdade. A espiral que o percurso do prédio
sugere ao visitante remete a uma trajetória em que não há ponto de chegada, mas
sim uma relação de continuidade entre as temáticas e enfoques abordados.
São Paulo recebe o público no piso Térreo. Fotos e obras
sobre a cidade, desde a sua fundação até trabalhos produzidos em 2017, convidam
a um novo entendimento sobre a capital do estado e seus arredores, nos núcleos
Esculturas, História, Paisagens, Urbanidade, Urbanismo, Modernismos,
Concretistas. Mesclam-se, neste piso, temas como o início da vila, passando
pela construção do interior do estado, com obras de Benedito Calixto ou telas
sobre a era do café, de Cândido Portinari, e, mais recentemente, trabalhos
de Caio Reisewitz, por exemplo.
O andar trata da modernidade, do concretismo, do
neo-concretismo, da contemporaneidade – passado, presente e indicações para o
futuro. Para isso, cruzam-se olhares de artistas como Militão, Joaquim Pedro,
Mario de Andrade, assim como paisagens gerais de Alfredo Volpi, personagens de
Almeida Junior, naturezas de Calixto. Mais próximas, fotos de indígenas feitas
por Claudia Andujar, dos prédios da cidade, de Cláudia Jaguaribe, detalhes de
edifícios, de Claudio Edinger, paisagens urbanas interpretadas nos grafites de
Alexandre Órion, entre outros.
O subsolo guarda experimentos da arte brasileira, com os
núcleos Cibernética Conceitual, Teoria dos Valores, Natureza, Subjetividade,
Escritura e Gambiarra. Cildo Meirelles está neste piso, com a litografia sobre
papel moeda Zero Cruzeiro. Além destes, o andar reúne um grande
número de artistas que vão do pop Antonio Dias ou Antonio Henrique Amaral, a
Beatriz Milhazes ou Berna Reale, em subjetividades, passando por Portinari, e
os contemporâneos Iran Espírito Santo, Paulo Bruscky, Hélio Oiticia, Lygia Clark.
O primeiro andar se situa no pós-guerra (Segunda Guerra
Mundial), um momento, segundo os curadores, em que um conjunto de questões
aglutinaram os artistas brasileiros em torno das artes visuais. Os núcleos são:
Geracional, Bidimensional – Regimes da Cor, Bidimensional – Geometria da Luz,
Tridimensional. Estão aqui a primeira geração de cinéticos, como Abraham
Palatnik, as cores de Amélia Toledo ou as gravuras de Maria Bonomi, em
transversalidades por momentos históricos e ideias conceituais. Estão obras,
ainda, de Ana Maria Maiolino, Antonio Manuel, José Resende, Paulo Pasta, Volpi
e Maria Martins, entre outros.
No segundo piso e último, o passeio segue pela formação
social do Brasil: o Barroco e Neo Barroco, tendo, igualmente, foco em duas
passagens traumáticas da história brasileira – a escravidão e a conquista das
terras indígenas. Aqui tem Aleijadinho e Mestre Valentim, mas também a
contemporânea Adriana Varejão; ou, ainda, Albert Eckhout e Alberto da Veiga
Guignard. Pode se ver, neste andar, um documento de venda de escravos ao lado
da quantidade de moedas de ouro que representava o seu valor como mercadoria. É
aqui que se concentra o núcleo afro-brasileiro, com 17 das obras recém
adquiridas de artistas como Alcides Pereira dos Santos, Ayrson Heráclito e
Jaime Lauriano.
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