Tio Dave deve estar um pouco desapontado, afinal mesmo após 15 anos de sua morte é um personagem místico e sempre lembrado da cultura nacional, um dos ícones do desbunde dos anos 70 e 80, quando além de fazer um grande jornalismo fotográfico foi uma "locomotiva" da contra-cultura brasileira ao criar a persona que teve seu auge quando ressuscitou junto a Zé Rodrix o conjunto Joelho de Porco.
Um artista de olhar atendo registrou vários detalhes, às vezes pequenos, às vezes parte de uma paisagem vistas em suas andanças pelo mundo.
Mesmo que não tenha sido o mote desta mostra senti falta dos seus trabalhos icônicos.
Talvez em função do modesto espaço da atual sede do IMS aqui em São Paulo, fomos privados de uma maior visão sobre esta vertente de sua produção, que imagino tenha milhares de imagens desfrutáveis.
Como um amante da fotografia tenho um sonho de que o IMS, que imagino o mais importante mantenedor de grandes acervos, sejam próprios ou em comodato do Brasil, nos permita acesso físico a ele aqui em São Paulo, quando da abertura de sua nova sede.
Mas nossa curiosidade é satisfeita numa visita virtual ao site do Instituto onde podemos apreciar uma grande parte de suas maravilhas, separadas e classificadas por diversos índices que nos conduzem ao objetivo.
A música abaixo, campeã no quesito melhor letra no "Festival dos Festivais" de 1985 tem a apresentação e narração de David Drew Zingg, o tio Dave, que além de tudo tinha uma coluna cultuada na Folha de São Paulo até no ano de sua morte
A última voz do Brasil - Joelho de Porco
Abaixo das imagens, o "press-release", fornecidos pela assessoria de imprensa do IMS.
IMS-SP apresenta a exposição
David Drew Zingg: Imagem sobre
imagem
O Instituto Moreira Salles
apresenta, a partir de 15 de abril, em seu centro cultural de São Paulo, a
exposição David Drew Zingg: Imagem sobre imagem, dedicada ao trabalho do
fotógrafo norte-americano David Drew Zingg (1923-2000). Com curadoria de Tiago
Mesquita, a mostra reúne cerca de 70 imagens, integrantes do acervo do
fotógrafo, depositado desde 2012 no IMS. No dia 14, às 19h30, por ocasião da
abertura, acontecerá uma visita guiada com o curador.
A mostra reúne fotografias de
cartazes, letreiros, imagens e anúncios em meio a construções, ruas e pessoas.
Imagens feitas ao longo do tempo, e nem sempre ligadas aos trabalhos
comissionados que fazia como fotógrafo. Por pelo menos duas décadas, Zingg caçou
essa iconografia no Brasil e no exterior, em regiões rurais e em grandes centros
urbanos. Retirando escritos e figuras do seu contexto, essas fotografias
evidenciam uma certa dimensão pop, componente fundamental dessa vertente do
trabalho de David Zingg. Sua força imagética está exatamente naquilo que não tem
por pressuposto ser um ícone. Letreiros de épocas e de procedências diversas,
reunidos nas imagens do fotógrafo, anunciam e comunicam suas mensagens
simultaneamente. Uma figura na parede comenta algo sobre um letreiro acima, que
desmente a inscrição ao lado. Assim, em uma das fotos, em uma fachada de
azulejos verdes, vemos uma porta em formato de ogiva de igreja gótica ao lado de
uma pintura a imitar o anúncio fotográfico da Brahma Chopp. Na mesma casinha, o
lugar é descrito como drogaria, restaurante e hotel. E o lugar é de fato tudo
isso, e algo mais que não pode ser bem expresso por legendas.
São resíduos de uma época que
insiste em não ir embora e de um presente que se estabelece de maneira pouco
convincente. Passado e presente convivem em uma única imagem. Em uma fotografia
da pitoresca Vila Tororó, em São Paulo, todas as ambiguidades se mostram juntas.
Naquela época, o antigo palacete havia se tornado um cortiço. Na foto, a vila já
é mostrada como casa modesta. A coluna, no centro da imagem, é adornada com uma
versão kitsch de uma divindade greco-romana. Na imagem, ela está alheia
ao uso da casa, por ser encoberta com varais carregados de roupa. A construção
já não é mais a mesma coisa. Mas a escultura permanece, mesmo fora de contexto.
Para o curador, “são nesses momentos
que o trabalho fica mais forte. Quando nos faz perceber esses desequilíbrios.
Melhor, quando coloca junto construções, elementos arquitetônicos, textos,
paisagens e personagens que parecem não se conhecer, mas compartilham o mesmo
espaço. É como se os lugares fossem feitos dessas colagens, de empilhamentos de
diversas épocas, de diversos lugares. O cartaz de trás deixa manchas no da
frente e outro rouba o fim de uma palavra. Por vezes, os papéis amontoados estão
em conflito: um impede que o outro seja entendido. Mas, às vezes, por sorte, ao
se juntarem, se tornam mais graciosos. Há junções divertidas. Em um tom de
crônica, as fotografias de Zingg mostram essas coincidências felizes e o ruído
ensurdecedor de um amontoado de ruínas. Muitas vezes tudo isso está na mesma
imagem.”
Sobre David Drew
Zingg
Nascido em Nova
Jersey, nos Estados Unidos, David Drew Zingg estudou na Columbia University,
onde mais tarde seria professor de jornalismo. Foi repórter e fotógrafo da
revista Look e trabalhou para outras publicações,
como Life, Esquire e Vogue.
Em 1959, Zingg veio ao
Rio de Janeiro como membro da equipe do veleiro Ondine na corrida oceânica
Buenos Aires-Rio. Encantado com o país, começou a viajar frequentemente para o
Brasil. Suas reportagens sobre acontecimentos nacionais, incluindo a construção
de Brasília, foram publicadas em várias revistas americanas e britânicas.
Esteve presente na
noite de abertura do Show de Bossa Nova, estrelado por Tom Jobim e
Vinicius de Moraes na boate Au Bon Gourmet, no Rio, e contribuiu para a
organização do memorável Concerto de Bossa
Nova no Carnegie Hall, de Nova York, em 1962. Colaborou com os
principais veículos de comunicação do país, como Veja, Manchete,
Playboy, entre outros.
Em 1978, mudou-se para
São Paulo, onde foi consultor e cronista da Folha de S.
Paulo, escrevendo de 1987 a 2000 a coluna “Tio Dave”. Zingg também
participou da banda Joelho de Porco, célebre pelas letras recheadas de
humor.
Nas inúmeras viagens
que fez pelo país, produziu um dos mais significativos registros do Brasil dos
anos 1970 a 1990. Fotografou o povo brasileiro e sua cultura, além de realizar
milhares de retratos de músicos e personalidades, como João Gilberto, Os Novos
Baianos, Chico Buarque, Pixinguinha, Leila Diniz, Elke Maravilha, Vinicius de
Moraes e Juscelino Kubitschek.
Sobre seus registros
fotográficos, David Zingg escreveu: “Fotografia é história, e é essa sua função
fundamental. A máquina mostra os dias de hoje àqueles que queiram ver os dias de
hoje. Mas a máquina também mostra o ontem àqueles que queiram aprender. (…). O
dever de um fotógrafo no Brasil, me parece, é insistir no registro do sofrimento
e do prazer, do belo e do irônico. Só o tempo e o público decidirão o
significado que as fotografias realmente têm.”
David Drew Zingg
morreu no dia 28 de julho de 2000, em São Paulo. Seu acervo, composto por mais
de 250 mil imagens fotográficas (principalmente diapositivos coloridos),
documentos e objetos pessoais, passou a integrar o acervo do Instituto Moreira
Salles em 2012, por meio de comodato realizado com seus descendentes.
Exposição David Drew Zingg:
Imagem sobre imagem
Abertura: 14 de abril,
a partir de 19h. Às 19h30, acontecerá uma visita guiada com o curador, Tiago
Mesquita.
Visitação: de 15 de abril a 9
de agosto
De terça a sexta, das 13h às 19h
Sábado,
domingo e feriado, das 13h às 18h
Entrada
franca - Classificação livre
Instituto Moreira Salles – São Paulo
Instituto Moreira Salles – São Paulo
Rua Piauí,
844, 1º andar, Higienópolis
Tel.: (11)
3825-2560
Informações para a
imprensa:
Barbara Giacomet de Aguiar – (11)
3371-4490
Andressa Lelli - (11)
3371-4424
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