São Paulo, dezembro
de 2017 – O retrato do
projeto magnânimo de uma cidade prestes a se transformar em uma grande
metrópole; a construção de um parque industrial e a verticalização de seu centro
histórico, acompanhados por um crescimento populacional inédito: esta foi a São
Paulo registrada pelas lentes do fotógrafo alemão Theodor Preising (1883-1962).
Seu trabalho, ainda pouco reconhecido, mas crucial para a documentação de toda
uma época, agora é celebrado pela exposição São Paulo: Sinfonia de
uma Metrópole, mostra que a Galeria de Fotos do Centro
Cultural Fiesp recebe de 25 de janeiro a 25 de março de 2018,
com entrada gratuita.
Com curadoria de
Rubens Fernandes Junior e concepção da Brazimage, a exposição reúne 61
imagens em preto e branco, registradas entre 1925 e 1940, além de revistas e
cartões postais da época. A mostra traz ainda trechos do filme São Paulo,
sinfonia da metrópole (1929), que inspirou o nome da exposição.
Exercício de vanguarda cinematográfica brasileira, o documentário cultua a
modernidade então recém-chegada à capital paulista.
A exposição
apresenta ao público um panorama documental da cidade durante a primeira metade
do século XX. A chegada dos imigrantes ao Porto de Santos e às
hospedarias paulistanas, o carnaval de rua da década de 1930, o lazer
sediado pelo antigo Sport Club Germânia – hoje Clube Pinheiros –, e a
passagem do dirigível Zeppelin pela capital são alguns dos ensaios de
Preising que poderão ser conferidos de perto.
As colheitas
do café e do algodão no interior do Estado, razão da riqueza que
sustentava a elite paulistana, também foram temas de seus registros. Sua
versatilidade técnica e qualidade estética possibilitou formar um amplo
inventário criativo e documental sobre o Estado, oferecendo ao público uma visão
privilegiada sobre a formação da capital no período entre as duas
guerras.
Perspicaz, o
fotógrafo teve sensibilidade aguçada ao entender que o momento era de
transformação, não somente do espaço urbano, mas também das relações sociais. A
cidade se modernizava com a clara intenção de atrair novos
investidores.
“Costumo dizer que a
fotografia brasileira é um grande iceberg, do qual conhecemos a ponta. Quando
tratamos dos fotógrafos do período entre guerras, por exemplo, [Guilherme]
Gaensly e B. J. Duarte estão no mainstream e, justamente por isso, são
reconhecidos pelo grande público. Theodor Preising tem um trabalho tão
importante quanto os demais, mas infelizmente acabou caindo no esquecimento”,
pontua o curador. “Essa mostra vem justamente para trazê-lo para a ponta do
iceberg. A exposição nasce com o intuito não só de ressignificar o seu acervo,
mas também apresentar ao público uma releitura de uma cidade que mudou muito ao
longo dos últimos 80 anos”, conclui.
Theodor Preising –
Uma figura a ser revelada
Nascido em 1883, em
Hildesheim, Alemanha, Theodor Preising foi fotógrafo nas frentes de combate da
Primeira Guerra Mundial. Tal experiência, combinada à difícil situação econômica
alemã no período pós-guerra, foi fundamental para a sua decisão de
emigrar.
Em 1920, viajou à
Argentina com a ideia de estabelecer residência. Insatisfeito, chegou ao Brasil
em 1923 – morou primeiro no Guarujá, e depois em São Paulo, onde montou seu
laboratório. Uma das suas primeiras atividades empreendidas por aqui foi a de
comercializar máquinas fotográficas, acessórios e cartões postais no Grande
Hotel de Guarujá.
A partir de 1924,
depois de já instalado na capital, começou a produzir cartões postais e álbuns
de várias cidades do Brasil, atividade então inovadora e fundamental para a
distribuição das imagens do país mundo afora. Além de São Paulo, as cidades
de Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Petrópolis, Salvador, Curitiba, Joinville
e Foz do Iguaçu também tiveram seu dia-a-dia registrado pelas lentes
do fotógrafo. Esta produção se estendeu até o início da Segunda Guerra Mundial,
quando o governo proibiu os estrangeiros dos países do Eixo de fotografar nos
espaços públicos. Preising se voltou, então, às culturas de café e de
algodão no interior de São Paulo e do Paraná.
No início da década
de 1930, colaborou com a revista The National
Geographic Magazine e com o jornal O Estado de S. Paulo. Foi
um dos primeiros profissionais a introduzir no Brasil as câmeras de pequeno
formato, como a Leica e a Contax, o que lhe permitiu realizar ensaios
fotográficos com agilidade e precisão não muito comuns para
época.
Em 1936, juntamente
com Benedito Junqueira Duarte, fotografou para a Revista S. Paulo,
publicação do governo paulista que se tornou a grande experiência modernista de
revista ilustrada no país. Trabalhou ainda no Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) durante o governo de Getúlio Vargas e na Universidade de São
Paulo.
Preising deixou um
acervo com mais de 16 mil negativos, que hoje pertencem ao seu bisneto
Douglas Aptekmann. “Não cheguei a conhecer o Theodor, mas meu avô, Carlos
Preising, também trabalhou como fotógrafo durante muito tempo. Então a
fotografia sempre foi algo muito presente em nossa família”, afirma Aptekmann.
“Ainda assim, só me apropriei de sua história e de sua grandeza em 2002, quando,
junto com meu avô resolvi ‘desenterrar’ os milhares de negativos que ele tinha
em seu porão. Descobrimos um acervo riquíssimo, com muitos trabalhos ainda
inéditos. Começou aí o meu trabalho de catalogação para tornar público esse
material”, completa. Atualmente, a obra de Preising é representada pela Galeria
Utópica.
Apesar de ainda
pouco reconhecido pela história da fotografia nacional, Theodor Preising é um
nome fundamental da iconografia paulistana. Em 2004, sete de suas fotografias
foram integradas à 13ª edição da Coleção Pirelli/Masp de
Fotografia.
Sobre o filme São
Paulo – sinfonia da metrópole
O documentário
nacional realizado em 1929 por Rodolf Rex Lustig e Adalberto Kemeny apresenta a
ideia de progresso e ordem social, construída cena a cena, a partir da
combinação de mosaicos visuais de uma cidade em desenvolvimento, que tinha como
espelho as principais capitais europeias. Os diretores tomaram como inspiração o
filme alemão Berlim: sinfonia da metrópole, de 1927, de Walter
Ruttmann.
Com montagens
elaboradas, o filme mudo traz uma sequência de cenas do cotidiano, do começo ao
fim do dia: crianças nas escolas, operários nas fábricas, trabalhadores nas ruas
e policiais trabalhando pela segurança do trânsito e dos
transeuntes.
Sobre o
Curador
Rubens Fernandes
Junior é pesquisador e curador independente de fotografia. Professor e Diretor
da Faculdade de Comunicação da FAAP, é também Doutor em Comunicação e Semiótica
pela PUC-SP.
Ao longo de sua
trajetória profissional, realizou curadorias de exposições fotográficas,
individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Recebeu o Prêmio de Melhor
Exposição/Curadoria da APCA pelas mostras de Mario Cravo Neto, no MASP (1995), e
de Geraldo de Barros, na Galeria Brito Cimino (2006). É ainda curador do Prêmio
Wessel de Fotografia. Publicou vários livros e ensaios, entre os quais Papéis
Efêmeros da Fotografia (Editora Tempo D’ Imagem, 2015); Fotografia em
Revista (FAAP e Editora Abril, 2009); Geraldo de Barros - Fotoformas e
Sobras (2006); Labirinto e Identidades - Fotografia Brasileira
Contemporânea (2003), ambos pela Cosac Naify.
obre a Galeria de
Fotos do Centro Cultural Fiesp
Inaugurada em
fevereiro de 2017, a Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp é gerenciada pelo
SESI-SP. Com uma programação voltada para a difusão da produção fotográfica como
expressão artística e cultural, o espaço traz quatro exposições anuais, que dão
oportunidade a novos artistas e reverenciam o trabalho de profissionais já
consagrados no mundo da fotografia.
Serviço:
Exposição São
Paulo: Sinfonia de uma Metrópole Local: Galeria
de Fotos do Centro Cultural Fiesp (Av. Paulista, 1313 – em frente à estação
Trianon Masp do Metrô) Período: de 25 de janeiro a 25 de março de
2018 Horários: de terça a sábado, das
10h às 22h; domingos, das 10h às 20h
Classificação
indicativa: livre Agendamentos
escolares e de grupos: 3146-7439 Grátis. Mais informações
em www.centroculturalfiesp.com.br
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