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quinta-feira, 24 de março de 2011

O orelhão de uma rua tranqüila do Pacaembu

Segunda, 05:45.

Ela trava o despertador antes mesmo dele tocar, está ansiosa mesmo tendo dormido bem. Se levanta rápido, entra no banheiro e toma uma longa chuveirada. Lembra que tinha tomado banho antes de dormir, afinal não gosta de pegar no sono suada, mesmo que seja de suor misturado. Teve um bom namoro com seu marido, como há tanto tempo, que já nem se lembrava mais.

"Que será que deu nele?" pensou.
"Que cheiro, que pegada! Conseguiu me levar aos meus 25 anos, quando só de pensar nele precisava passar um gelo na testa e trocar a calcinha."

-Amor, porque tão cedo? Sua aula na academia não começa só as 7:00?, vem cá, aproveita! Depois dessa noite... Acordei cheio de tesão, olha só!
-Humm, que lindo! Posso dar um beijo?
-Claro!.... Mas só isso?
-Amor, 'cê sabe que se eu chegar depois das 6:30, não consigo parar o carro no estacionamento da academia, e naquele bairro é perigoso andar a pé naquela hora.
-Tá certo, bonita e gostosa como minha mulher é...
-Deixei café pronto, o que faremos hoje à noite?
-Você escolhe.
-Vou pensar, te amo!
-Tchau!

Entra no carro afobada e pensa, "merda, estou atrasada".

Sai de Perdizes apressada, atravessa a Pça Charles Müller furando um farol, - "que bom que ainda não há 'marronzinhos' nesta hora".

Depois do labirinto no Pacaembu, que ela conhece desde garota...

"Que sorte, meu orelhão está desocupado!"
" Cadê a porra daquele cartão que eu tinha escondido debaixo do tapete?"
"Puta merda! O J. mandou lavar o carro, será que ele achou o cartão?"
"Ufa! Está aqui no cinzeiro junto com as moedas perdidas."

Ela respira fundo, fecha os olhos, e aí dá um sorriso de safada.

-Oi!
-Oi!
-Que foi?
-'Ce tá com uma voz de trepada.
-Como é uma voz de trepada?
-Essa sua.
-Não entendi!
-Você só fala com esse dengo quando quando a gente acabou de gozar.
-Ah..., nem te conto!
-O que?
- Nessa noite o J. me quis. Chegou com tanto jeitinho..., não resisti.
-Porra! Você quer acabar com a minha semana?
-'Tá com ciúme? Fica não,bobo, isso só me deixou mais a fim.
-A fim do que?
-Do que você acha?
-Cachorra! 'Cê não sabe o que te espera, vagabunda!
-Ui! Vagabunda e cachorra?
-É..., caralho! Assim eu não aguento.
-Olha! Aguenta sim!
-Como?
-Me matriculei num curso de CCI.
-Que porra é essa?
-Ah bobinho, nunca ouviu falar?
-Não.
-CCI é o Cúmulo da Cultura Inútil!
-E?
-Significa que agora eu tenho um álibi para ter ver duas vezes por semana, só preciso pagar a matrícula e pegar as apostilas.
-Merda, se eu não estivesse com tanta raiva!
-O que?
-Até batia uma.
-Faz prá eu ouvir.
-Então fala alguma besteirinha!
-Perá aí!
-O que?-
-Estão vindo aqueles dois caras que caminham de madrugada, e que porra!, sempre que me vêem começam a rir.










5 comentários:

  1. que doideira, macário. não imaginei te ler algo assim. olha, eu adoro os contos (não é crônica, é aguda), que terminam abruptamente :)

    um beijo.

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  2. Parabéns pelo texto..gostei muito do estlo e da levada..
    :D
    mas concordo com a moça acima, não esperava te ler assim...

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  3. MUITO LEGAL MACARIO.GOSTEI DO CCI.ESTA FOI BOA .OLHA SE RESOLVEM COPIAR E POR EM PRATICA.MARGARIDA KCB

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  4. Surpreendente! Voce deveria investir mais no gênero, leva jeito!!! Adorei! bjo!

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