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sábado, 14 de agosto de 2010

Construção



Que me perdoem os puristas mas este é, para mim, um dos maiores poemas da língua portuguesa, não só pela mensagem como, desculpem o trocadilho, por sua reconstrução.

Foi considerada a melhor música brasileira já gravada pela revista Rolling Stone, e com o final com um enxerto de "Deus lhe pague" é inesquecível.

Aproveitem.




Construção - Chico Buarque de Holanda

Construção

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

4 comentários:

  1. Macário:

    "Construção" é um poema oral, em dois ou três acordes. Com certeza, é um grande texto.E o disco inteiro é magnífico, difícil escolher a melhor canção: "Deus lhe pague", "Olha, Maria", "Acalanto", "Valsinha". O álbum é um dos tantos grandes momentos musicais de Chico Buarque.

    Marcos Silva

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  2. Concordo em todos os sentidos e tem mais uma particularidade genial. Cante o samba de trás prá frente, ou seja do fim para o inicio e tenha uma surpresa.
    Bom Mesmo

    Abraços

    Ary

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  3. Lindo... tenho assim no meu quarto, escrito!
    perfeito

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  4. Valeu Maca, parece que seu gosto musical está mais refinado depois que esteve em casa. Embora você ache o Tom Jobim o melhor compositor do século, penso que a obra do Chico é mais completa. Beijo. Eliseu

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