Que me perdoem os puristas mas este é, para mim, um dos maiores poemas da língua portuguesa, não só pela mensagem como, desculpem o trocadilho, por sua reconstrução.
Foi considerada a melhor música brasileira já gravada pela revista Rolling Stone, e com o final com um enxerto de "Deus lhe pague" é inesquecível.
Aproveitem.
Construção - Chico Buarque de Holanda
Construção
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
Macário:
ResponderExcluir"Construção" é um poema oral, em dois ou três acordes. Com certeza, é um grande texto.E o disco inteiro é magnífico, difícil escolher a melhor canção: "Deus lhe pague", "Olha, Maria", "Acalanto", "Valsinha". O álbum é um dos tantos grandes momentos musicais de Chico Buarque.
Marcos Silva
Concordo em todos os sentidos e tem mais uma particularidade genial. Cante o samba de trás prá frente, ou seja do fim para o inicio e tenha uma surpresa.
ResponderExcluirBom Mesmo
Abraços
Ary
Lindo... tenho assim no meu quarto, escrito!
ResponderExcluirperfeito
Valeu Maca, parece que seu gosto musical está mais refinado depois que esteve em casa. Embora você ache o Tom Jobim o melhor compositor do século, penso que a obra do Chico é mais completa. Beijo. Eliseu
ResponderExcluir