Com grande ansiedade fui a abertura desta mostra pois, pelo release, abaixo, percebi que o artista, transita entre duas escolas que sempre me encantaram, a Arte Cinética e o Concretismo.
O primeiro contato que tive com a arte cinética foi uma exposição de Jesus Soto no CCBB, me emocionou, mas o que sempre me instigou foi a arte concreta, já comentada aqui nos posts Audácia Concreta, Lothar Charoux, Sacilotto e Barsotti na BMF&BOVESPA e Amílcar de Castro, além da grata surpresa de Dionío Del Santo.
Esta exposição nos apresenta somente uma pequena parte de seus trabalhos nas diversas técnicas em que ele cria suas obras. Como resumo de sua carreira, nos satisfaz plenamente pois mostra sua maestria em vários suportes, mas nos deixa a frustração do "quero mais".
Há pinturas, gravuras, esculturas com movimentos, montagens que provocam ilusões de ótica e três instalações, sendo que uma delas, magnífica, a sala com os espelhos pendurados, nos transcende provocando sensações inusitadas.
Buenos Aires Hora Cero - Astor Piazzolla
Abaixo das imagens, o "press-release", colhidos no site da assessoria de imprensa da Galeria Nara Roesler
GALERIA NARA
ROESLER REALIZA MOSTRA RETROSPECTIVA
DO ARGENTINO JULIO
LE PARC, UM DOS PIONEIROS DA ARTE CINÉTICA
‘Uma busca
contínua’ inclui trabalhos lançados desde a década de 50
a obra inédita
criada especialmente para a exposição em São Paulo
FOTOS EM ALTA RESOLUÇÃO: www.canivello.com.br / www.factoriacomunicacao.com
Com 85 anos recém-completados (seu
aniversário foi no último dia 23 de setembro), o mestre da arte cinética Julio
Le Parc ganha no Brasil uma retrospectiva dedicada exclusivamente à sua
obra. A exposição Uma busca contínua, em cartaz na Galeria
Nara Roesler a partir de 3 de outubro, apresentará um compreensivo conjunto
de trabalhos produzidos pelo
artista argentino nos últimos 55 anos, alguns dos quais em grande formato, além
de uma instalação inédita concebida especialmente para a ocasião. Com curadoria da venezuelana-americana Estrellita B.
Brodsky, respeitada colecionadora, curadora e especialista em arte da
América Latina, a mostra ocupará o jardim interno, o pátio e os 600 metros
quadrados do andar térreo da galeria, onde, no próprio dia 3, às 17h30, ela e o
artista participarão de uma conversa aberta ao público, com entrada franca.
Julio Le Parc, que no primeiro semestre
levou mais de 170 mil pessoas à sua exposição no Palais de Tokyo, em
Paris, cidade onde vive desde 1958, foi um dos criadores, em 1961, juntamente
com Horacio García Rossi, Francisco Sobrino, François
Morellet, Joël Stein e Jean-Pierre Vasarely (conhecido também como Yvaral),
do Groupe de Recherche d’Art Visuel, melhor conhecido como GRAV
(1960-68), coletivo de artistas ótico-cinéticos, cujo principal objetivo era
estimular a interação do público com as obras. Indiferente às demandas do
mercado e em busca de uma forma menos convencional de se fazer arte, o grupo
apresentava suas criações em locais inusitados e até na rua. As obras e
instalações de Julio Le Parc, constituídas primordialmente por jogos de
luz e sombras, são fruto direto desse movimento, em que a produção de uma arte
transitória e sem fins comerciais tinha uma clara conotação sociopolítica.
“Ao longo de seis décadas, Julio Le Parc
buscou de maneira sistemática redefinir a própria natureza da experiência
artística, trazendo que ele chama de ‘perturbações dentro do sistema
artístico’. Ao fazer isso, ele brincou com as experiências sensoriais do
público e deu aos espectadores um papel ativo”, explica a curadora. “Após
a dissolução do GRAV, em 1968, Le Parc continuou se dedicando ao
que chama de ‘uma busca contínua’ por uma experiência artística que nunca supõe
ditar um efeito pré-determinado. Em vez disso, seu esforço é no sentido de
provocar uma resposta espontânea do público”.
Apesar de seu papel fundamental na história
da arte cinética, as telas, esculturas e instalações de Le Parc incluem
questões relativas aos limites da pintura, por meio tanto de procedimentos mais
próximos da tradição pictórica, tais como a acrílica sobre tela, quanto de assemblages ou aparatos mais propriamente
cinéticos.
“Para Le Parc, o objetivo é
exatamente a interrogação e a reestruturação do entorno imediato. Ele busca uma
total cumplicidade que exige do espectador não somente participação ativa, mas
também autorreflexão. Dessa forma, a prática de Le Parc vai além do mero
espetáculo visual rumo a um envolvimento físico com o presente – a arte
enquanto concepção humana, uma arte que não pode mais permanecer absoluta”,
analisa Estrellita B. Brodsky.
Texto de Estrellita B. Brodsky, curadora da
mostra “Uma busca contínua”, na íntegra:
Ao longo de seis décadas, Julio Le Parc
buscou de maneira sistemática redefinir a própria natureza da experiência
artística, trazendo o que ele chama de “perturbações dentro do sistema
artístico”. Ao fazer isso, ele brincou com as experiências sensoriais do
público e deu aos espectadores um papel ativo. Com seus colegas membros do Groupe
de Recherche d’Art Visuel (GRAV) – um coletivo de artistas criado por Le
Parc com Horacio García Rossi, Francisco Sobrino, François Morellet, Joël Stein
e Jean-Pierre Vasarely (Yvaral) em Paris no ano de 1960 –, Le Parc gerou
encontros diretos com o público ao desmontar o que eles consideravam ser as
amarras artificiais das estruturas institucionais.[1] Como expresso
em seu manifesto Assez de mystifications [“Chega de Mistificação”,
Paris, 1961], a intenção do grupo era encontrar maneiras de confrontar o
público com obras de arte fora do ambiente museológico por meio de intervenções
em espaços públicos com jogos subversivos, charges de cunho político e questionários
bem-humorados.[2] Com tais estratégias, Le Parc e o GRAV
transformavam espectadores em participantes com maior autoconsciência, tanto
alcançando uma forma de nivelamento social como antecipando algumas das
estratégias relacionais e colaborativas sociopolíticas que vêm se proliferando
ao longo das duas últimas décadas.
Após a dissolução do GRAV em 1968, Le
Parc continuou se dedicando ao que chama de “una búsqueda
permanente” (uma busca contínua) por uma experiência artística que nunca
supõe ditar um efeito pré-determinado. Em vez disso, seu esforço é no sentido
de provocar uma resposta espontânea do público. Movido por um ethos
utópico arraigado, Le Parc usa sua arte interativa ou imersiva como um
laboratório social, produzindo situações imprevisíveis e estimulando de forma
provocativa o envolvimento do espectador no processo de criação artística. Le
Parc falou da função dual que tem sua obra, a de intervenção e a de crítica ao
autoritarismo, em uma declaração de 1968: “Busco [busquei] criar ações práticas
que se contraponham aos valores existentes…[para] criar situações… [que vão
contra] qualquer tendência ao estável, ao durável e ao definitivo.” [Julio Le
Parc, Guerilla culturelle, Paris, março de 1968].
A produção artística de Le Parc evoluiu de
estudos geométricos bidimensionais, com pequenas caixas de luz, para
instalações de grande porte, ambientes imersivos e intervenções públicas
na rua. No entanto, essa produção diversa tem em comum um função
desestabilizadora central: provocar a interação do indivíduo com seu ambiente,
exigindo, ao mesmo tempo, um reconhecimento daquele envolvimento. A obra de Le
Parc chamada Sphère bleue (Esfera azul, 2001/2013) é um enorme globo de
quatro metros de diâmetro composto por quadrados de acrílico azul transparente
que parece estar magicamente suspenso no ar. A luz refratada na parte exterior
da esfera inunda o espaço que circunda o globo com um azul vibrante. A
experiência perceptiva que os visitantes têm da esfera oscila entre vê-la como
algo que é transparente e impenetrável e, ao mesmo tempo, frágil e monumental;
algo que distorce o que se vê além e cria a consciência de se estar vendo e
sendo visto em um espaço comum recém-transformado.
Os componentes físicos das obras de Le Parc
– folhas de material refletivo penduradas, esculturas enormes feitas de
acrílico transparente, pinturas geométricas, estruturas de luz motorizadas,
telas de metal distorcidas – são tão impressionantemente variadas quanto as
próprias estruturas. O feito geral, no entanto, é criar um ambiente e uma
impressão que alteram os sentidos e são, muitas vezes, desorientadores. Em
esculturas como Cellule à pénétrer adaptée (Célula penetrável adaptada,
1963/2012) ou Formes en contorsion (Formas em contorção, 1971), Le Parc
dá ênfase à mutabilidade da percepção. A fragmentação se torna inerente à
apreensão de obras nas quais espelhos, luzes refletidas ou projetadas,
diferentes tipos de óculos, jogos e interações físicas confundem os sentidos.
Assim, perspectivas cambiantes criam um dinamismo interno ou uma instabilidade
essencial por meio das quais Le Parc questiona a precisão subjetiva e os modos
tradicionais de exibição que, de acordo com o que ele escreve em seu influente
texto “Guerrilla culturel”, servem apenas para perpetuar estruturas
sociais de dominação.
Com os mesmos objetivos, Le Parc também
realizou pesquisas dentro da fenomenologia das estruturas por meio da pintura
bidimensional, de superfícies planas animadas com permutas aparentemente
ilimitadas de formas geométricas simples. Em estudos preparatórios e pinturas,
Le Parc reduz e desloca esses elementos de acordo com um sistema predeterminado
para criar uma pluralidade de composições sequenciais. Em suas “séries de
rotações”, como Séquences de rotation (Sequências rotacionais, 1959) ou Rotation
des carrés (Rotação de quadrados, 1959), sequências progressivas nas quais
um leve deslocamento de um único elemento de um círculo ou quadrado em padrões
reticulados tornam-se uma espécie de animação, comportando-se menos como pintura
estática do que como um estado perpetuamente transitório. Em outro estudo, com
tinta sobre papelão, Sur reticula (Sobre retícula, 1958), Le Parc
demonstra como formas geométricas, círculos e retângulos, quando cortadas em
pedaços, podem adquirir uma mobilidade que convida o espectador a imaginar
movimento além da moldura em tempo real e sempre presente, porém fugaz.
Para Le Parc, o objetivo é exatamente a
interrogação e a reestruturação do entorno imediato. Ele busca uma total
cumplicidade que exige do espectador não somente participação ativa, mas também
autorreflexão. Dessa forma, a prática de Le Parc vai além do mero espetáculo
visual rumo a um envolvimento físico com o presente – a arte enquanto concepção
humana, uma que não pode mais permanecer estática ou absoluta.
Biografia de Julio Le Parc
Nascido
em 1928, em Mendoza, na Argentina, Julio Le Parc estudou na Escuela de Bella
Artes em Buenos Aires, em 1943. Le Parc rapidamente se envolveu com a cena
de vanguarda local, em pleno desenvolvimento, e com grupos ativistas de
esquerda. Em reação à ditadura repressora de Juan Perón, o artista abandonou a
escola e só retornou após a queda do ditador em 1955. Quando da sua volta, Le
Parc teve um papel de liderança como artista-defensor ao se juntar à organização
estudantil universitária Federación Universitaria Argentina, uma das
maiores forças militantes de oposição ao governo.
A
exposição de Victor Vasarely em Buenos Aires, em 1958, foi um importante
catalisador da partida de Le Parc para Paris naquele mesmo ano. Com uma bolsa
para de estudos, Le Parc realizou trabalhos em colaboração com artistas colegas
de Vasarely e cofundou o Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), em
1960. Enquanto as primeiras pinturas geométricas de Le Parc receberam
influência da tradição construtivista da Arte-Concreto Invención em
Buenos Aires, os trabalhos criados logo após sua chegada em Paris também
revelaram um crescente interesse pelo trabalho de Mondrian e Vasarely. No
início dos anos 1960, Le Parc passou a incorporar movimento e luz à sua
pesquisa. Interessado nas possibilidades do movimento, e na participação do
espectador, ele desenvolveu seus característicos ambientes de luz e esculturas
cinéticas, que vieram a lhe trazer reconhecimento internacional enquanto um dos
maiores expoentes da arte cinética.
Representante
da Argentina na Bienal de Veneza de 1966, Le Parc recebeu o Grande Prêmio
Internacional de Pintura como artista individual. Apesar de o grupo ter se
dissolvido em 1968, Le Parc continuou a trabalhar tanto como artista individual
quanto como integrante de coletivos internacionais, particularmente dos que
estavam envolvidos na denúncia política de regimes totalitários. A participação
de Le Parc na revolta parisiense de Maio de 1968 e em comícios sindicais
resultou em sua expulsão da França pelo período de um ano. Ao voltar para
Paris, Le Parc se tornou um canal importante entre artistas ativistas
latino-americanos e a cena artística de Paris, notadamente por meio da
publicação parisiense ROBHO, para a qual ele cobria os eventos do coletivo de
artistas Tucumán Arde na Argentina.
As obras de Le Parc ganharam
diversas exposições individuais na Europa e na América Latina, em locais como o
Instituto di Tella (Buenos Aires), o Museo de Arte Moderno (Caracas), o Palacio
de Bellas Artes (México), a Casa de las Americas (Havana), o Moderna Museet
(Estolcomo), Daros (Zurique), Städtische Kunsthalle (Dusseldorf). Além disso,
integraram muitas outras exposições coletivas e bienais, entre as quais estão a
polêmica The Responsive Eye (1965), no Museu de Arte Moderna de Nova
York, a Bienal de Veneza, em 1966 (na qual recebeu o Prêmio), e Bienal de São
Paulo (1967). Em protesto contra o regime militar repressor no Brasil, Le Parc
se juntou a outros artistas no boicote à Bienal de São Paulo de 1969 e publicou
o catálogo alternativo Contrabienal, em 1971. As obras coletivas
realizadas posteriormente por Le Parc incluem a participação em movimentos
antifascistas no Chile, em El Salvador e na Nicarágua.
Mais recentemente, a obra de Le
Parc foi objeto de uma grande retrospectiva em 2013, chamada Soleil froid, no
Palais de Tokyo, e apresentada na exposição coletiva Dynamo, no Grand
Palais, em Paris.
Biografia de Estrellita B.
Brodsky
Estrellita B. Brodsky foi
curadora de exposições como Jesús Soto: Paris and beyond, 1950-1970,
exibida na New York University Grey Gallery (Nova Iorque, EUA, 2012), e Carlos
Cruz-Diez: (In)formed by Color na Americas Society (Nova Iorque, EUA,
2008). Em 2012, foi nomeada curadora adjunta de arte latino-americana da Tate
(Londres, Inglaterra). Foi copresidente do Conselho de Curadores do El Museo
del Barrio, em Nova Iorque, até 2003, onde organizou a exposição Taíno:
Pre-Colombian Art and Culture of the Caribbean, em 1997. Lecionou
sobre artistas latino-americanos no pós-guerra na Hunter College (Nova Iorque,
EUA). Através de sua pesquisa, curadoria e coleção particular, Estrellita B.
Brodsky desempenha papel fundamental na divulgação e consolidação de artistas
latino-americanos no cenário internacional.
SERVIÇO
GALERIA NARA ROESLER
Av Europa, 655 – Jardim Europa
Tel: (11) 3063.2344
Julio Le Parc - Uma busca contínua
Curadoria de Estrellita B. Brodsky
De
3 de outubro a 30 de novembro
Abertura:
dia 3 de outubro, das 19h às 23h
Horário
da exposição: de segunda a sexta, das 10h às 19h / sábado, das 11h às
15h
Entrada
franca
Conversa
entre Estrellita B. Brodsky e Julio Le Parc: dia 3 de outubro, às 17h30
Entrada
franca
Assessoria de imprensa
Canivello / Factoria Comunicação
Vanessa Cardoso – vanessa@factoriacomunicacao.com
Eduardo
Marques – eduardo@canivello.com.br
Mario
Canivello – mario@canivello.com.br
(21) 2274-0131 e 2239-0835
[1] Os artistas do GRAV, Julio Le Parc,
Horacio Garcia Rossi, Francisco Sobrino, François Morellet, Joël Stein e
Jean-Pierre Vasarely (conhecido como Yvaral), eram membros de um grupo maior
conhecido como o Centre de Recherche d’Art Visuel antes de separarem, formando
o GRAV, em 1960.
[2] Groupe de Recherche d’Art Visuel,
“Chega de mistificações.” Panfleto distribuído durante a Segunda Bienal de
Paris. Setembro de 1961. Reproduzido em Yves Aupetitallot, ed., Stratégies de participation: GRAV—Groupe de Recherche d’Art
Visuel, 1960-1968, trad. Simon Pleasance e Charles Penwarden (Paris:
Centro de Arte Contemporânea de Grenoble, 1998), 71.
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